Bem boa essa entrevista do Primeiro-Ministro da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, para Renata Malkes, do Globo:
O GLOBO: Apesar do acordo, novas sanções ao Irã são cada vez mais iminentes. Qual o próximo passo de Brasil e Turquia para evitá-las? RECEP TAYYIP ERDOGAN: Não há clareza agora. Ainda.
Quando a situação estiver mais clara, vamos decidir o próximo passo. Se o acordo for respeitado pelo Irã, nós, que colocamos nossos nomes, nossas assinaturas naquele documento, não vamos voltar atrás enquanto o Irã se mantiver fiel a esse acordo. O Irã provou ser membro da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), signatário do TNP e cumpriu o que se esperava nesse projeto de troca de urânio.
Por isso, a comunidade internacional deve nos apoiar
O GLOBO: Um dos pontos criticados pelos membros do Conselho de Segurança é o fato de o Irã poder seguir enriquecendo urânio. Por que isso não foi discutido?
ERDOGAN: O enriquecimento de urânio para fins civis pode ser feito no Irã e no resto do mundo. Muitos países enriquecem urânio. Por que estamos tão incomodados? Se outros países podem, por que não o Irã? Vamos falar de justiça e não de injustiça. Se você pressiona o Irã assim, nunca terá resultado algum! Há duas semanas, assinei um acordo com a Rússia para a criar uma usina nuclear na Turquia e vou começar a enriquecer urânio no futuro. E aí dirão à Turquia “não, vocês não podem enriquecer urânio”? Eu vou dizer que é para produzir energia.
Você pode enriquecer e eu não? Isso é inaceitável! A quantidade, sim, essa pode ser discutida.
O GLOBO: Também não houve acordo para permitir novas inspeções da AIEA no Irã . Por quê?
ERDOGAN: Há órgãos competentes, a AIEA, da qual o Irã é membro, além de signatário do Tratado de Não-Proliferação (TNP). Se as organizações internacionais querem inspecionar mais, saber mais, que sigam em frente e investiguem! Se não houver apenas uma usina nuclear, mas uma fábrica de bombas atômicas, então isso pode ser denunciado ao resto do mundo. Mas, isso nunca aconteceu até agora. Não podemos temer uma coisa que não existe.
Nos últimos meses, a imprensa internacional está sendo manipulada contra o favor que nós estamos fazendo. Está sendo atiçada diante de nossa boa vontade. Com o tempo, essa ventania passa e as coisas vão parecer mais positivas. Eu e o presidente Lula sabíamos que falariam contra. Mas, fomos decididos.
O GLOBO: No ano passado, o Irã omitiu a existência de uma usina secreta, em Qom. Diante desse histórico de desconfiança, pode-se confiar no presidente Ahmadinejad?
ERDOGAN: A AIEA não pode criticar as usinas iranianas ou classificá-las como fábricas de armas. A AIEA só fala de possibilidades.
Vamos nos ater aos fatos e não às possibilidades.
A comunidade internacional teme que essas instalações se transformem em fábricas de armas, mas não vejo assim.
Falo a verdade. Claro que considero essa possibilidade, mas não a uso para julgar pessoas.
Se não estamos falando da lei dos supremos, mas da supremacia da lei, temos que falar disso claramente. Os países alegam que haverá armas nucleares no Irã... E há a possibilidade de inocência... Então, vamos provar essas alegações! Enquanto essas alegações não forem provadas, não podemos culpar ninguém. Estamos de mãos dadas com Lula e Ahmadinejad e demos um passo adiante.
O GLOBO: Há uma tentativa de grandes potências impedirem o acesso de emergentes às questões diplomáticas internacionais?
ERDOGAN: Claro! Era função do Conselho de Segurança das Nações Unidas! E os membros permanentes são muito ativos, mas não foram efetivos. Não puderam dar passos concretos para resolver a questão. Não puderam sequer conversar com o Irã. A posição foi “ah, vocês vão falar com o Irã? Tragam-nos alguma conclusão”.
Foi o que nos disseram! O Brasil resolveu um problema significativo.
O Brasil e a Turquia podem resolver problemas no Irã.
E não podemos deixar de questionar: como os membros permanentes não podem resolvê-los? Deveriam ser capazes, mas cometem um grande erro; eles têm que mudar mentalidade e estratégia.