domingo, 25 de abril de 2010

Pesquisas: Marcos Coimbra mostra como é importante lembrar o óbvio

Canso de demonstrar aqui neste Blog que as divulgações dos resultados das pesquisas costumam ser muito mal feitas, por despreparo ou, quem sabe, má-fé. As margens de erro, por exemplo, são um Deus nos acuda. Marcos Coimbra, do Instituto Vox Populi, dá uma aula sobre o tema, em artigo do Correio Braziliense:

Pesquisas discrepantes

Quem lê uma pesquisa foi avisado de que ela pode errar e é alertado sobre quanto. É como fumar conhecendo o que está escrito no maço
Se as diferenças entre as pesquisas surpreendem até quem as faz, imagine as pessoas que não estão familiarizadas com elas. Desde o jornalista especializado ao cidadão comum, a surpresa pode se tornar perplexidade.
Estamos vivendo uma fase de pesquisas discrepantes, após meses de convergência das que foram publicadas a respeito das próximas eleições presidenciais. O que parecia um consenso entre institutos e levantamentos tornou-se uma polêmica.
É curioso notar que quem é hoje demonizado era, até ontem, tratado com consideração. Os institutos, seus responsáveis e métodos de trabalho não eram questionados por ninguém, nem no meio político, pelos partidários de Dilma ou de Serra, nem pela imprensa, que informava os resultados de cada um com a imparcialidade possível. Agora, parece que todo mundo virou culpado de alguma coisa.
De fato, para quem tem o hábito de acompanhar as pesquisas brasileiras, as diferenças recentes podem soar estranhas. Estamos acostumados, depois de muitas eleições, a não ver maiores variações entre elas. Os institutos tendem a acertar (quase sempre) e a errar (de vez em quando) juntos.
Nos Estados Unidos, por exemplo, variações como as dos últimos dias, de até 10 pontos percentuais entre um e outro instituto, são consideradas normais. Seria até ridículo o Partido Republicano entrar na Justiça contra alguém que fez uma pesquisa mostrando Obama na frente. Já na Argentina, todos diriam que são modestas, pois a regra, por lá, é de as pesquisas apresentarem diferenças abissais. Em poucos países do mundo se daria atenção às que estamos vendo por aqui e, certamente, não se especularia sobre se provêm de algo escuso.
Todos sabem que há diferenças de metodologia entre os institutos brasileiros, que decorrem de suas opções técnicas e operacionais. Nenhuma é melhor que a outra, pois todas apresentam prós e contras. Não existe, em nenhum lugar do mundo, o manual da pesquisa perfeita, a ser obedecido por todos. É um sonho autoritário (e inviável) imaginar o dia em que só haverá uma metodologia, aplicada por um só instituto. Se chegasse, nenhum democrata teria o que comemorar.
Uma das melhores coisas das pesquisas é que elas são inteiramente francas sobre algo que as outras informações que o eleitorado recebe costumam não explicitar: que são falíveis. Quem lê uma pesquisa foi avisado de que ela pode errar e é alertado sobre quanto. É como fumar conhecendo o que está escrito no maço.
Ao avaliar as pesquisas, as margens de erro não são coisas para registrar e esquecer, mas para lembrar. Não é o mais provável, mas é perfeitamente possível que 10 pontos de diferença entre Serra e Dilma (consideradas as margens) sejam cinco pontos, o mesmo que diz uma pesquisa cujo resultado é uma diferença de um ponto entre os dois. Politicamente, 10 pontos ou um fazem uma enorme diferença, mas podem não ser nada (ou quase nada) em termos estatísticos.
Quem analisar com mais cuidado as pesquisas de agora vai perceber que são unânimes na caracterização das intenções espontâneas de voto. Na mais recente do Ibope, Dilma tem 15% e Serra 14%. Na Vox, Dilma soma 15% e Serra 12%. No Datafolha, Dilma tem 13% e Serra 12%. Na Sensus, Dilma apresentava 16%, Serra 14%. Em qualquer lugar do mundo, quem olhasse esses números diria que os institutos brasileiros estão inteiramente de acordo sobre o que pensam os eleitores mais definidos, os que tendem a ser mais politizados e interessados nas eleições.
Mas o mesmo consenso não acontece na caracterização das intenções de voto dos que só respondem em quem votariam depois de estimulados. As diferenças de metodologia explicam parte da discrepância (mesmo que, do ponto de vista estatístico, sequer se possa afirmar que ela existe).
O mais provável, contudo, é que elas variem apenas por não haver, ainda, suficiente cristalização das intenções de voto no universo do eleitorado. É o fenômeno que se quer retratar que é volátil, não que alguma pesquisa esteja certa e as outras erradas.
Aliás, pesquisa certa ninguém sabe qual é. Só em 3 de outubro teremos certeza sobre o que os eleitores, de fato, querem. Até lá, o máximo que podemos fazer são pesquisas bem feitas, e isso todos tentam. Tolo é quem acha que só ele consegue.

Eleições 2010: qual a via de Ciro?


Ciro não foi apanhado de surpresa pela decisão do PSB em descartar sua candidatura à Presidência. Ele já sabia há tempos que não tinha como viabilizar-se eleitoralmente, e que como estava não servia nem a Lula nem aos socialistas. A questão é que Ciro tenta ser o principal pólo de oposição ao futuro governo, seja ele qual for. Procura um caminho que o leve rápido da 3ª via para a 2ª via, uma saída do cenário capaz de garantir grande projeção para o futuro. No vai-e-vem frenético em busca da melhor aliança no pós-outubro, está ficando um pouco desnorteado (e até desnordesteado...). Se continuar assim, acaba perdendo a 1ª via, a 2ª via, a 3ª via – e tornando-se inteiramente inviável.

Brasília, Guilherme Vaz, para rasgar o domingo

Ainda dentro das comemorações dos 50 anos de Brasília, um domingo com o brasiliense Guilherme Vaz e sua "Música para Folha de Papel", feita durante a VIII Bienal de Paris, em 1973.


sábado, 24 de abril de 2010

Maria da Conceição Tavares, em três tempos



  • Vi Maria da Conceição Tavares pela primeira vez na casa de minha prima, Sônia, em almoço oferecido ao Weffort, recém-retornado do Chile. Era estudante de Filosofia e devo dizer que a primeira impressão não foi nada boa, pela forma exagerada como ela centralizava as discussões. Lembro que eu e Michel Debrun fomos conversar afastados.
  • Depois, criei o tema da campanha em que ela foi eleita Deputada Federal: "Essa é boa de briga".
  • Em uma época em que havia área para fumantes nos aviões, encontrei-a no Aeroporto de Congonhas e viajamos lado a lado para o Rio. Confesso que foi difícil ouvi-la com aquela fumaça toda que ela expelia. Quando estávamos pousando, alertei-a para não acender mais um cigarro que já estava em sua mão. Ela respondeu que sabia que não podia, mas colocou-se de quatro entre as poltronas, acendeu o cigarro... e pousamos imersos em sua nuvem de fumaça.
Hoje, na comemoração de seus 80 anos vividos com bravura, minha admiração a Maria da Conceição Tavares.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

O Governo Fernando Henrique tirou o sapato e baixou a cabeça para Bush


Os tucanos estão nervosos porque Lula (lembrando que o Ministro Celso Lafer, tucano das Relações Exteriores, tirou o sapato para poder entrar nos Estado Unidos) declarou que, agora, “Ministro que baixar a cabeça e tirar o sapato será demitido”. Hoje, Celso Lafer está nos jornais tentando explicar o inexplicável do sapato. A verdade é que antes de Lula a política externa brasileira caracterizava-se por altíssima dose de submissão aos países mais ricos. No Dia do Diplomata, terça-feira, Lula lembrou também a reunião do G-8 da qual ele participou quando tinha poucos meses na Presidência. Ele chegou, quando já estavam vários presidentes presentes, e foi sentar em seu lugar. Pouco depois, Bush chegou e todos os presentes se levantaram. Lula falou para Celso Amorim: “Não vou levantar, não. Ninguém levantou pra mim, por que levantar para o Bush?” Permaneceu sentado e o Bush acabou vindo falar com ele e sentar ao seu lado. É disso que se está falando: de uma política externa altiva, independente, capaz de falar de igual para igual, mesmo que do outro lado da mesa esteja uma nação riquíssima. O Brasil de Lula atingiu um ponto no cenário internacional que tucano algum teve asas para alcançar. O brasileiro agora tem autoestima, e não vai querer voltar à vida derrotada da oposição. “Dá cá o pé, Lafer” nunca mais!

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Linha histórica do Ibope: Dilma é a única que mantém tendência de crescimento


(Clique para ampliar. A linha de Tendência está em preto)

Não adianta bater boca, não adianta espernear: até a nova pesquisa Ibope confirma que, de setembro pra cá, a única candidatura que mantém a tendência de crescimento é a de Dilma Roussef. Serra continua paradão, meio zumbi; Marina, idem; o "não-voto" (nulos, brancos, etc) e Ciro mantêm-se em queda.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Sou de Brasília!


Cheguei a Brasília em uma tarde de um domingo julhino. Peguei carona com o Alceu Gama, mineiro brasiliense, que tinha conhecido pouco antes no Rio. O fusquinha avançava pelo Eixão, ainda silencioso, deserto e barrento. Via aquilo tudo meio tenso, olhei pro Alceu e propus: “Vamos voltar?”
Felizmente não voltamos. Fomos encontrar a Flora, na Colina, que arranjaria um jeito de eu morar na UnB. Nesse mesmo domingo, conheci o “Marquês” (ou “Arataca”, ou “Marquês de Arataca”, hoje bem mais conhecido como Eliomar Coelho, cearense brasiliense, Vereador pelo PSOL do Rio de Janeiro, na época estudante de engenharia). Em Brasília fiz grandes amigos e conheci pessoas ótimas (por motivos diversos) que, infelizmente, não vou lembrar de todas. Teve o José Salomão David Amorim, o Hugo Mund Jr., o Aylê Salassiê, o Gougon, as irmãs Lu e Hileana, o Tarran, o Cildo Meireles, o Guilherme Vaz, o Tep, o Ludovico, a Denise (França) Bandeira, o Elmano,  Goreti, a Zezé Lindoso, a Cláudia Pereira (mãe da minha filha Maíra) e toda sua família muito carinhosa. No apartamento que fiquei, da Oca 1 (ou seria a Oca 2?), que dividia com o Werneck, eram realizadas frequentemente reuniões clandestinas, com a participação do Honestino (morto pela repressão). Eu não participava, tinha me afastado do Movimento.
Em Brasília, dirigi jornal, publiquei meus primeiros artigos sobre história em quadrinhos, fiz minhas primeiras poesias concretas e cheguei a participar da coordenação de uma pesquisa de opinião pública e do 1º Encontro Nacional dos Professores de Comunicação. Às vezes, à noite, subia no teto da antiga Reitoria para filosofar com amigos, cara a cara com aquele céu que não tem igual. Cada um de nós, claro, era de um lugar diferente do Brasil, mas todos nos sentíamos de Brasília, era um grito de guerra.
Foi um semestre intenso de UnB. Voltei a morar em Brasília, durante um ano, como Diretor de Criação da MPM Propaganda, e sempre me sinto muito bem quando estou na cidade, onde moram dois dos meus quatro filhos – Maíra, publicitária, e Hayle, diplomata. Ontem, véspera dos 50 anos, estive em Brasília para a cerimônia de Mestrado em Diplomacia do meu filho e fiquei muito emocionado. Principalmente com os discursos, do orador da turma, do Celso Amorim e de Lula – grandioso. Presenciei, mais uma vez em Brasília, esse Brasil novo, de cabeça erguida, mais forte, mais justo, sem medo de ser feliz.
Eu (que sou de Manaus, sou do Rio, sou de São Paulo, sou da selva, sou de Sena Madureira, sou de Rio Branco, sou de Miguel Pereira, sou de Fortaleza, sou de Belo Horizonte, sou de Nova York, sou de Wivenhoe) também sou como o Brasil – re-nasço em Brasília.
Texto para o blog Brasília Meu Amor, mantido por Maíra Gadelha, em homenagem ao aniversário de 50 anos.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Pesquisa global da BBC: a influência do Brasil no mundo é mais positiva do que a dos Estados Unidos, China, Rússia e Índia

(clique na imagem para ampliar)

Desde 2005, o Serviço Mundial da BBC, através da GlobeScan/PIPA, realiza pesquisa – pessoalmente ou por telefone – com pessoas de 28 países, para medir a percepção que se tem da influência de 17 países sobre o resto do mundo. Este ano foram feitas 29.997 entrevistas, entre novembro de 2009 e fevereiro de 2010, que colocaram o Brasil em 7º lugar. Diz a reportagem da BBC que “a imagem do Brasil foi vista como altamente positiva pelos entrevistados brasileiros (84%, mas na determinação da média global a pesquisa não considera os índices dos próprios países)  e chilenos (77%). No México, 59% dos entrevistados veem o Brasil como uma influência positiva, bem como 55% na América Central. A imagem do país também é positiva entre países asiáticos como a China (55%), Coreia do Sul (51%), Filipinas (47%) e Tailândia (44%). Em Portugal, 51% dos entrevistados também veem o Brasil como influência positiva. É destaque äinda o fatos dos Estados Unidos pós-Obama passarem a ter imagem (ligeiramente) positiva.

domingo, 18 de abril de 2010

Eleições 2010: pesquisa sem margem de erro

(clique para ampliar)

O diálogo acima faz parte da boa reportagem, "Progresso varia entre os pobres do Nordeste", do enviado especial da Folha a Pernambuco, Fernando Canzian. Às vezes parece que há intenção de desqualificar o Bolsa-Família por não ter atingido 100% do seu objetivo na educação, mas acaba mostrando que de um modo ou de outro é um programa fundamental para o povo mais pobre. E reflete muito bem as razões do favoritismo da candidatura apoiada por Lula. Essa "pesquisa" in loco não se abala com jogos de amostragem ou alteração de cenário, aqui a margem de erro é zero. E é por essas e outras que os institutos de pesquisa não gostam de testar a transferência de voto de Lula para Dilma, associando os dois nomes no questionário. Vejam o texto completo:

Progresso varia entre os pobres do Nordeste 
A família de Sueli Dumont é beneficiária do Bolsa Família desde 2005, quando a reportagem da Folha passou a acompanhar todos os anos algumas das famílias atendidas pelo programa no Nordeste.
Em 2005, o núcleo familiar dos Dumont era composto de 10 pessoas. Em 2008, passou a 13. Na última visita, no início deste mês, eram 17.
Todos vivem em uma favela, o Suvaco da Cobra, na periferia de Jaboatão dos Guararapes, vizinha a Recife. Uma semana antes da visita da Folha, houve três assassinatos no local.
Há poucos anos, as quatro filhas maiores de Sueli (Kássia, Késsia, Rafaela e Priscila) garantiam, na adolescência e durante a idade escolar, o recebimento do benefício pela mãe.
Ainda adolescentes, engravidaram. As quatro têm juntas hoje sete filhos. Antes de se tornarem mães, receberam dinheiro federal para participar do programa Agente Jovem.
Fizeram cursos de bordado e cabeleireira. Hoje, nenhuma delas trabalha. Mas três das quatro já passaram a receber R$ 90 cada do Bolsa Família.
A própria matriarca Sueli ainda é beneficiária. Aos 37 anos, tem quatro filhos com idades entre cinco e 15 anos. Diz receber R$ 134 por mês.
No clã dos Dumont, apenas o marido de Sueli trabalha com alguma frequência, como carroceiro. Sueli trabalhava sem registro em um lixão. Teve de parar por causa de uma incômoda doença de pele que faz partes do corpo "descascar".
No dia a dia, os Dumont vivem amontoados em três barracos. Em 2005 era uma moradia, em um terreno mínimo. Com o aumento da família, ficou tudo mais apertado.
"Tem hora que gostaria de estar morando no meio do mato, só com bicho em volta, em silêncio", queixa-se Sueli.
A poucos metros da casa de Sueli, uma experiência um tanto mais bem sucedida, até aqui.
A família de Pedro Silva e Micinéia Santos, com três filhos, avança devagar, mas de forma consistente. Luan, 11 e Alan, 10, estão na escola desde que a Folha passou a visitá-los nos últimos anos. A pequena Vanessa, 8, entrou mais recentemente.
A cada visita, a reportagem fez um ditado para as crianças e pediu para que lessem um texto. O progresso foi grande, assim como tem sido, desde o início, a atenção dos pais com a escola (que a Folha conheceu).
A maior parte das visitas ao Suvaco da Cobra ocorreu pouco antes das crianças irem para a aula. É a mãe quem supervisiona o banho, o almoço e quem as leva ao colégio. Mas é Pedro, 60, quem normalmente cobra a lição e os estudos.
Micinéia também é beneficiária do Bolsa Família (R$ 134 ao mês) por conta das crianças. Mas, finalmente, depois de anos solicitando uma pensão por invalidez, Pedro (que teve o braço direito praticamente inutilizado em um acidente) agora recebe um salário mínimo por mês do INSS.
Ele diz que ainda "não gravou" o nome dos candidatos à sucessão. Mas também achava que Lula poderia ser candidato. "Meu candidato será o do governo", diz.
Cerca de 14% dos eleitores, a maioria no Nordeste, segundo o Datafolha, dizem querer votar em alguém apoiado por Lula, mas ainda não sabem que Dilma é candidata.

Metas do programa
Para Lúcia Modesto, secretária nacional de Renda e Cidadania do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, vários aspectos do Bolsa Família têm sido "incrementados" nos últimos anos.
Mas ela admite que "os avanços não são suficientes" no programa, que saltou de um atendimento de 3,6 milhões de famílias em 2003 para 12,3 milhões no final de 2009.
Uma das principais metas do Bolsa Família é atingir 100% no monitoramento da frequência escolar e nos postos de saúde entre os beneficiários.
Há ainda a meta de ampliar o programa Próximo Passo, para capacitação profissional de jovens. Lúcia admite que, em muitos casos, o Agente Jovem acabou funcionando mais como "terapia ocupacional" do que como treinamento.
"Mas o Bolsa Família tem, indiscutivelmente, um poderoso impacto sobre a pobreza extrema", diz.

Domingo com Jaceguay Lins


Admirava o trabalho de Jaceguay Lins, apesar de pouco contato. Chegamos a conversar sobre fazer algo em parceria, minha poesia concreta e a musicalidade alucinada que ele tinha. Tomamos outros rumos, e quando voltei a me informar ele já tinha morrido. Peguei esse vídeo no YouTube para o domingo. Música do Lins, coreografia de Mercedes Beltrán, Luisa Matias Vilar, Enesdança 2008 - Cia Brasileira de Ballet.


sábado, 17 de abril de 2010

Pesquisa Datafolha X Pesquisa Sensus: as margens de erro entram em campo

 (clique para ampliar)

Saiu o Datafolha que os tucanos esperavam: Serra 38%, Dilma 28%. Uma grande diferença para o Sensus que os petistas comemoraram: Serra 32,7%, Dilma 32,3%. Estão erradas? Estão certas? Qual delas? Na minha opinião uma delas pode estar induzindo ao erro. Eles usam métodos diferentes (Sensus, domiciliar; Datafolha, fluxo), foram feitas em períodos mais ou menos próximos (Sensus, de 5 a 9 de abril; Datafolha, de 15 a 16 de abril), com números de entrevistados também próximos (Sensus, 2.000 entrevistas; Datafolha, 2.600 entrevistas). A diferença principal entre os métodos está na abordagem feita aos entrevistados: enquanto o Sensus faz as entrevistas nos locais de moradia, o Datafolha faz a abordagem em pontos de fluxo das microrregiões. Mas nada justificaria diferenças tão grandes, a não ser as margens de erro vistas por seus extremos. A margem de erro máxima do Sensus (2.000 entrevistas) é de 2,2%, enquanto a do Datafolha (2.600 entrevistas) é de 2,0% (mais correto seria dizer 1,9%, mas o instituto arredondou). Assim, no Sensus, Serra poderia ter entre 30,5% e 34,9% enquanto no Datafolha poderia ter entre 36% e 40%. A variação máxima de um (34,9%) encosta na variação mínima do outro (36,0%). Dilma teria, no Sensus, entre 30,1% e 34,5% enquanto no Datafolha teria entre 26% e 30%. A variação mínima de um (30,1%) é a mesma da variação máxima do outro (30,0%). Se pensarmos assim, pelos extremos das margens de erro, as duas pesquisas estão semelhantes. É correto pensar sempre assim? Não. É possível acontecer? Sim. Os institutos forçam resultados pelos extremos das margens de erro? Isso ninguém pode afirmar.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

PSDB quer perder também no tapetão


Os tucanos estão inconformados com a Pesquisa Sensus que dá empate entre Dilma e Serra. Por conta disso, estão armando um grande fuzuê, no que estão absolutamente certos, têm mesmo que espernear, principalmente se podem contar com o apoio da mídia. Mas precisam de um mínimo de decência. Essa tentativa de impugnar a pesquisa por causa de um suposto erro na data é ridícula. A pesquisa foi registrada dia 5/abr. Se houve erro no nome do patrocinador, corrige-se o nome, e mantém-se tudo em andamento. Essa questão é resolvida de forma cristalina. Serra não crescerá nem cairá por causa disso. Os tucanos devem perder no TSE por 100%. Para aprenderem que a ordem dos patrocinadores não altera o produto.

Apesar da Cúpula Nuclear, Estados Unidos ampliam suas vendas de urânio perigoso


Vamos colocar o seguinte: a Cúpula de Segurança Nuclear teve, claro, sua importância. Serviu para fortalecer, internamente, a imagem de líder de Barack Obama. Serviu para mostrar ao mundo que os Estados Unidos não vivem mais inteiramente aqueles tempos bushianos de atirar primeiro para conversar depois. E serviu para botar em pauta para a humanidade os perigos de uma catástrofe nuclear provocada por ato terrorista. Mas a Cúpula teve seus senões. O primeiro foi a recusa israelense (permitida pelos Estados Unidos) de participar do evento. O outro foi esse jogo de gato e rato com o Irã.
A tática de colocar o Irã contra a parede usando o artifício das sanções do Conselho de Segurança não deu muito certo – o que seria óbvio. Obama bem que tentou convencer o Presidente Hu, chinês, mas aparentemente foi uma tentativa ingênua. A China depende do petróleo iraniano, e os americanos ofereceram a garantia de eles próprios fornecerem o petróleo – mas alguém em sã consciência acha que a China vai trocar a dependência com o Irã por uma dependência com os Estados Unidos?
Pior ainda nessa Cúpula foi a contradição americana com relação ao comércio de urânio altamente enriquecido (HEU). Ao mesmo tempo em que saúdam Ucrânia, Chile e Canadá por abrirem mão de estoques HEU, os Estados Unidos, segundo revela o site Politico, planejam vender esse urânio perigoso para o próprio Canadá (17kg), a França (160kg) e a Bélgica (93kg).
Pergunta que bombardeia nossa cabeça: dá pra confiar num país assim?

Gabeira lança o Plano “B” - de bye-bye…


Para o candidato verde ao Governo do Rio, 2012 falou mais forte do que 2010. Gabeira já sabia que não tinha chance de se eleger Governador. Sabia também que sua candidata à Presidência, Marina, era apenas um faz de conta em termos nacionais. O que estava motivando a manter-se candidato era o suposto sucesso de Marina na cidade do Rio (que lhe ajudaria no futuro) e o excelente acordo com Serra que, na hipótese de vitória tucana, poderia lhe garantir ótima sobrevida. Havia de negativo a companhia de Cesar Maia, que poderia lhe tirar muitos votos – principalmente na sua campanha para Prefeito em 2012. Mas Gabeira imaginava que o saldo seria positivo.
Refeitas as contas, no entanto, o político verde percebeu que 2+2 não chegavam a 43 (Verde), nem mesmo a 45 (PSDB) – no máximo chegariam a 25 (DEM)... Ou seja, poderia ajudar Cesar Maia (DEM) a se eleger Senador, não contribuiria em nada para que Serra (PSDB) parasse de descer a ladeira, não conseguiria ele próprio se eleger e, pior, prejudicaria seu futuro político. Foi aí que ele inventou o Plano Bbye-bye candidatura ao Governo, bye-bye Cesar Maia e até mesmo bye-bye Serra. Gabeira trata de garantir seu cargo de Deputado Federal e preservar sua imagem para as eleições municipais de 2012.
Esse é o quadro, que também garante a re-eleição de Sérgio Cabral praticamente por W.O. Mas, quem sabe, pode ser ainda que Gabeira se entregue às tentações de um Plano R – de Renegociação...

terça-feira, 13 de abril de 2010

Com Ciro ou sem Ciro, Serra e Dilma empatam em primeiro lugar até no segundo turno


Começou a circular a informação de nova Pesquisa Sensus para a Presidência da República, que teria sido encomendada pelo Sindicato dos Trabalhadores da Construção Pesada e Afins do Estado de São Paulo, realizada entre os dias 5 e 9 de abril, com 2000 entrevistas (margem de erro máxima de 2,2%). Caso ela se confirme, poderá ocorrer uma revoada trágica no poleiro tucano. Segundo o Blog do Noblat divulgou, são esses os resultados:

Com Ciro
  • Serra - 32,7%
  • Dilma - 32,3%
  • Ciro - 10,1%
  • Marina - 8,1%
  • B/N - 7,7%
  • NS - 9,1%

Sem Ciro
  • Serra - 36,8%
  • Dilma - 34,0%
  • Ciro - 10,6%
  • Marina - 10,6%
  • B/N - 9,1%
  • NS - 9,5%

Segundo turno
  • Serra - 41,7%
  • Dilma - 39,7%
  • Brancos e Nulos - 10,1%
  • Não sabe e não respondeu - 8,5%


A diplomacia americana ainda não sabe falar chinês


Que será que deu na Casa Branca para espalhar que a China estava a seu lado contra o Irã? O assessor do Conselho de Segurança Nacional americano, Jeff Bader, chegou a declarar que os chineses “estão preparados para trabalhar conosco”!
O Diário do Povo de hoje coloca a notícia nos eixos com a manchete “China declara que sanções não resolvem a questão nuclear iraniana”. E na manchete principal, sintomaticamente, o jornal informa que o “Presidente Hu participa do Encontro sobre Segurança Nuclear, tem encontros dos BRICs e visita Brasil, Venezuela e Chile”. Claro que não seria diferente. O Irã é uma fonte de energia estratégica e não pode ser jogada pra escanteio assim sem mais nem menos. Precisa ser estimulado para negociações mais amplas, não forçado a uma rendição inexplicável.
Como explicar mais essa trapalhada da diplomacia americana – falta de cursos de chinês? Aliás, como explicar todo esse Encontro? Qual será o proveito de tudo isso? Como explicar que Israel tenha decidido não participar? Se o objetivo fosse realmente o de garantir mais segurança para o mundo contra a ameaça nuclear, mereceria todo o nosso aplauso. Mas com o objetivo de obter unanimidade contra o Irã mostrou-se um grande fiasco. A nossa imprensa adora chamar Lula de “ingênuo” (ontem chegou a dizer que ele estava isolado entre os líderes), mas fecha bem os olhinhos para as barbaridades da “tucana” Hillary Clinton.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Estrategista americano posiciona-se próximo ao Brasil sobre o Irã

Zbigniew Brzezinski sempre foi considerado um grande estrategista da política externa americana, tendo até ocupado o cargo de assessor de Segurança Nacional do Governo Jimmy Carter. Tem assessorado Obama, mas suas ideias sobre questões atuais - talvez por não fazer parte do Governo - vão um pouco além. Defende negociações mais amplas com o Irã, não acredita na forçação de barra americana através das sanções da ONU e acha necessária uma ação mais efetiva dos Estados Unidos para a formação do Estado Palestino.
Questionado sobre a posição brasileira quanto à política nuclear iraniana, declarou que não conhece em detalhes, mas, pelo que ouviu falar, vê como uma posição a ser levada em consideração.
Sua entrevista que saiu hoje na Folha, feita por Claudia Antunes:


"Não tenho ilusão sobre fim rápido da bomba atômica"

Grande estrategista da política externa americana no século 20, Zbigniew Brzezinski defende negociações amplas sobre o programa nuclear do Irã, em que o país receba garantias de que não será atacado ao abrir mão da bomba. Ele afirma que os EUA devem tomar a frente de um plano para a criação do Estado palestino, porque o conflito ameaça a segurança americana, e demonstra ceticismo sobre a meta, expressa pelo presidente Barack Obama, de pôr fim aos arsenais atômicos. Brzezinski diz que os EUA não pretendem abdicar de sua hegemonia: "Se a atual proeminência da América entrasse em declínio rápido, todo o mundo seria lançado no caos político e econômico".

Como assessor de Segurança Nacional do presidente democrata Jimmy Carter (1977-1981), Zbigniew Brzezinski contabilizou uma vitória importante e um grande revés no Oriente Médio: o acordo de paz Israel-Egito, o primeiro entre o Estado judeu e um vizinho árabe, em 1978; e a Revolução Islâmica de 1979 no Irã, com a tomada de reféns na Embaixada dos EUA, que teve peso decisivo para a vitória do republicano Ronald Reagan na eleição presidencial de 1980.
A região e os dois países, Israel e Irã, continuam nos cálculos de Brzezinski, que em março esteve na Casa Branca, com outros antigos assessores presidenciais, para tratar do assunto com o atual conselheiro de Segurança Nacional, general James Jones, e Barack Obama. A urgência de um acordo de paz na Palestina e o programa nuclear iraniano foram os principais temas desta entrevista à Folha de um Brzezinski de voz firme, aos 82 anos.
FOLHA - O sr. é um dos veteranos da política externa americana que propuseram que Obama apresente um plano pronto para a solução de dois Estados do conflito israelense-palestino. Acredita que ele fará isso?
ZBIGNIEW BRZEZINSKI - Eu não sei.
FOLHA - Por que defende essa abordagem?
BRZEZINSKI - Porque acho que um arranjo de paz no Oriente Médio é de interesse de todas as partes envolvidas. Os EUA estão cada vez mais ameaçados pelo radicalismo e o extremismo na região, e parte disso é provocada pelo conflito contínuo entre Israel e os palestinos. Israel precisa de paz para se tornar uma parte aceita do Oriente Médio, no qual viva em segurança e prospere e possa até mesmo se tornar a Cingapura da região. E os palestinos têm direito à dignidade política, à independência política e a um território nacional.
FOLHA - E os dois lados, sozinhos, não poderiam alcançar um acordo?
BRZEZINSKI - Isso é absolutamente certo. A questão é que esse conflito agora se prolonga por várias décadas, e todo esforço de paz baseado apenas na negociação entre os dois lados fracassou.
FOLHA - Faz sentido negociar sem incluir o Hamas?
BRZEZINSKI - De uma forma ou de outra, os elementos extremistas dos dois lados terão de ser envolvidos, e, se a acomodação proposta responder aos interesses básicos tanto de Israel quanto do público árabe, os extremistas acabarão isolados politicamente.
FOLHA - Acredita na chance de o Hamas aderir a um acordo?
BRZEZINSKI - Se o acordo parecer justo e atraente para uma porção significativa dos palestinos, e se ele trouxer benefícios tangíveis, acredito que o Hamas pode muito bem evoluir. Mas é algo que nunca saberemos se acontecerá se não tentarmos fazer acontecer.
FOLHA - Houve esse choque recente entre Obama e o premiê Netanyahu após o anúncio de construções em Jerusalém Oriental. Não está claro, no entanto, se Israel vai suspender as construções. Qual deve ser o próximo passo dos EUA?
BRZEZINSKI - Em geral, eu apoio a posição que Obama adotou até agora, e veremos como Israel responde às propostas americanas mais recentes.
FOLHA - O balanço de forças dentro dos EUA favorece que haja mais pressão sobre Israel?
BRZEZINSKI - Eu acho que o povo americano em geral é a favor de uma solução pacífica, mas apoiar uma solução pacífica não é a mesma coisa que pressionar Israel. Uma solução requer compromissos tanto de Israel quanto dos palestinos. O problema é que nenhum dos dois lados parece disposto a dar o primeiro passo. A equipe de Obama está penosamente consciente desse fato.
FOLHA - As últimas iniciativas de Obama na questão nuclear contêm uma mensagem para o Irã suspender seu programa atômico. Ele será bem-sucedido?
BRZEZINSKI - Não tenho certeza de que estamos pedindo ao Irã que suspenda seu programa nuclear [o país tem o direito a tê-lo, como signatário do Tratado de Não Proliferação]. Acho que pedimos ao Irã provas convincentes e que concorde com acordos com credibilidade para dar à comunidade internacional a confiança de que seu programa não está destinado à produção de armas atômicas.
FOLHA - O sr. já disse que o programa nuclear do Irã deveria ser negociado num quadro em que os iranianos receberiam garantias de segurança. Obama não encampou essa iniciativa. Sustenta essa proposta?
BRZEZINSKI - Eu apoio a inclinação de Obama de negociar com o Irã, mas eu era a favor no passado e sou ainda hoje de negociações de maior amplitude, nas quais várias grandes questões, incluindo a segurança regional e as relações econômicas, sejam tratadas simultaneamente às discussões específicas sobre a questão nuclear.
FOLHA - O que está impedindo o governo Obama de fazer isso?
BRZEZINSKI - Em parte, a falta de uma resposta palpável do Irã.
FOLHA - Existem outros fatores? BRZEZINSKI - Pode haver alguma hesitação em ampliar de modo prematuro a pauta de negociações, mas minha opinião sobre isso é diferente da do governo.
FOLHA - O Itamaraty tem insistido em que há espaço para um pacto no qual o Irã entregaria parte de seu estoque de urânio pouco enriquecido em troca de combustível para seu reator de uso médico. A Turquia seria intermediária dessa troca. A posição brasileira é ingênua?
BRZEZINSKI - Eu não conheço a posição brasileira precisamente. Mas do que eu já ouvi sobre ela, e, pela sua descrição, me parece que representa um ponto de vista que deveria ser levado em consideração.
FOLHA - Brasil e Turquia, com cadeiras não permanentes no Conselho de Segurança, dizem que gostariam de ver mais negociações antes de novas sanções ao Irã. Se aprovadas, as sanções darão resultado?
BRZEZINSKI - Não tenho como saber que tipo de sanções será aprovado. Haverá negociações, e certamente haverá diferentes posições sobre a questão. Também sabemos que sanções demoram bastante tempo para ter efeito, e que é melhor que sejam acompanhadas por negociações sérias.
FOLHA - Alguns analistas nos EUA dizem que é inevitável que o Irã obtenha arma atômica e que será preciso conviver com isso. Concorda?
BRZEZINSKI - Eu espero que isso não aconteça, porque acho que seria desafortunado, e poderia criar tensões muito sérias nas relações internacionais. Ao mesmo tempo, tenho confiança em que poderemos conter qualquer nova potência nuclear, assim como contivemos por muitos anos potências perigosas e poderosas como a União Soviética stalinista e a China de Mao Tsé-tung. [ele se refere ao conceito de contenção, da Guerra Fria, em que o poderio bélico é usado não em conflitos, mas para dissuadir o oponente de atacar].
FOLHA- Como o senhor avalia a nova estratégia nuclear de Obama? É otimista em relação ao objetivo de pôr fim aos arsenais atômicos?
BRZEZINSKI - Eu acredito que as iniciativas adotadas recentemente são uma contribuição positiva para um mundo que se torne cada vez menos dependente, por um período prolongado, de armas nucleares. Mas não tenho nenhuma ilusão de que o movimento nessa direção será rápido e não tenho meios de prever quando as armas atômicas desaparecerão de todo, se é que isso acontecerá, e de qualquer forma com certeza não será em pouco tempo.
FOLHA - China e EUA são interdependentes na economia. Mas setores nos EUA demonstram preocupação de que a China ameace o domínio militar americano no Pacífico. O sr. teme o desafio militar chinês?
BRZEZINSKI - Não há dúvida de que a relação entre os EUA e a China tem importância enorme, talvez central, para os dois países. E eu sei que a China, em longo prazo, está destinada a ter uma corporação militar cada vez mais poderosa. No entanto, acho que, neste estágio, análises alarmistas não são acuradas nem propiciam a manutenção de uma relação bilateral estável e responsavelmente cooperativa.
FOLHA- O século 20 foi o século americano. O sr. acredita que os EUA terão a capacidade de manter seu papel proeminente nas questões internacionais no futuro próximo?
BRZEZINSKI - No futuro próximo, com certeza. Os EUA não estão se preparando para abdicar. Mas o futuro próximo são no máximo 20 anos. O que virá depois é impossível prever com confiança. Mas uma coisa é clara para mim: se a atual proeminência da América entrasse em declínio rápido, todo o mundo seria lançado no caos político e econômico.

domingo, 11 de abril de 2010

“Eles” querem se passar por “nós”



Esse discurso de Serra pretensamente à la Obama, falando em “união” ou na recusa de uma campanha na base do “nós contra eles”, revela apenas o medo da Oposição de nunca mais voltar a pegar o bonde da história.
Quando Obama disse que era o candidato dos Estados Unidos da América, ele, negro, procurou – e conseguiu – reduzir a resistência racial preconceituosa tradicional entre os brancos. Será que Serra está assumindo ser o candidato apenas dos “ricos” e pretende agora atrair os “pobres”? Durante anos e anos de poder, “eles” não fizeram nada pelos mais pobres, que hoje, sem “eles”, conquistaram padrão de vida bem melhor. Será que Serra está assumindo ser candidato apenas do “Sul Maravilha” e pretende agora atrair os “esquecidos do Norte-CO-Nordeste”? Durante anos e anos de poder, “eles” voltaram as costas para o Norte-CO-Nordeste, que hoje, sem “eles”, tem padrão de desenvolvimento que pode se comparar ao do Sul desenvolvido. Será que Serra está assumindo ser o candidato do “Brasil submisso” e pretende agora atrair o “Brasil de cabeça erguida”? Durante anos e anos de poder, “eles” assumiram o “complexo de vira-lata” e se curvaram diante do mundo – mas hoje o Brasil é outro, altivo, respeitado, ocupando um lugar de destaque no cenário internacional.
Não adianta a camuflagem para tentar pegar carona no sucesso de Lula - que foi quem de fato uniu o País. Não adianta o jogo de palavras, porque “eles” é “eles” e “nós” é “nós”. É assim que a campanha vai ser e é assim que o eleitor vai decidir o seu voto. De um lado, “eles”: FHC-Serra-passado”. Do outro lado, Lula-Dilma-futuro. Não dá pra misturar, não dá pra confundir. Para usar uma linguagem que “eles” entendem bem, “never mix, never worry”.

Um Gil Misterioso no Inferno de Wall Street


Volta e meia meus filhos me veem cantarolando Gil Misterioso, de Caetano Veloso. Não é uma coisa muito complicada, já que sua letra corresponde a pouco mais de uma linha do “Inferno de Wall Street”, que por sua vez é um fragmento de “O Guesa”, de Sousândrade. Apenas para não deixar a música passar em branco,coloquei algumas imagens que arrebanhei na internet: tem a casa de Sousândrade (em Alcântara, Maranhão, onde fiquei uns dias há alguns anos), tem Caetano e tem Wall Street. Tudo bem caseiro, bem curtinho, mas bom de ouvir o domingo inteiro.
Trecho do poema, com letra da música em destaque:

—Por sobre o fraco a morte esvoaça . . .
Chicago em chamma, em chamma Boston,
De amor Hell-Gate é esta frol. . .
Que John Caracol,
Chuva e sol,
Gil-engendra em gil rouxinol . . .
Civilização . . . ão ! . . Court-hall !


sábado, 10 de abril de 2010

Debate sobre o Tratado de Não-Proliferação Nuclear: o Brasil de hoje contra o Brasil de antigamente


Na Folha de hoje, um duelo bem significativo, a pretexto do Protocolo Adicional do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP). De um lado, Samuel Pinheiro Guimarães, diplomata, ex-Secretário-Geral do Ministério das Relações Exteriores (2003-2009) e atual Ministro de Assuntos Estratégicos; do outro, Rubens Ricupero, diplomata, ex-Secretário-Geral da Unctad (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento) e ex-Ministro da Fazenda (governo Itamar Franco), atualmente diretor da Faculdade de Economia da Faap e do Instituto Fernand Braudel de São Paulo.
De um lado um dos principais formuladores da política externa do Governo Lula; do outro, o ministro da Fazenda durante a implantação do Plano Real, mas que ficou mais conhecido pelo vazamento de conversa onde se definiu assim: "Eu não tenho escrúpulos: o que é bom a gente fatura, o que é ruim a gente esconde".
De um lado, o Brasil que não se curva; do outro lado, o Brasil da adesão, ou melhor... deixa pra lá. É pra ler e comparar.
Na segunda e na terça-fera será realizada reunião de 46 líderes, entre eles Lula, com o objetivo declarado de afastar a possibilidade de que material nuclear caia nas mãos de terroristas. Diante desse clima, a Folha perguntou: “O Brasil deve assinar o Protocolo Adicional ao Tratado de Não Proliferação Nuclear?”
Samuel Pinheiro Guimarães  respondeu “Não” e escreveu:
Instrumento desnecessário e humilhante

O Centro da questão é o Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), cujo objetivo é evitar uma guerra nuclear. A possibilidade de tal conflito não está nos países que não detêm armas nucleares, mas, sim, naqueles que as detêm. Portanto, o principal objetivo do TNP deve ser a eliminação das armas dos países nuclearmente armados: Estados Unidos, Rússia, China, França e Inglaterra.
Há 42 anos esses países se comprometeram a eliminar suas armas, e há 42 anos não cumprem esse compromisso. Ao contrário, aumentaram a eficiência de suas armas nucleares.
Apesar de não terem se desarmado, esses países insistem em forçar os países não nucleares a aceitar obrigações crescentes, criando crescentes restrições à difusão de tecnologia, inclusive para fins pacíficos, a pretexto de evitar a proliferação.
Os países nucleares, ao continuarem a desenvolver suas armas e, portanto, a intimidar os países não nucleares, estimulam a proliferação, pois os países que se sentem mais ameaçados procuram se capacitar. Isso ocorreu com a então União Soviética (1949), com a França (1960) e com a China (1964).
Hoje, diante da inexistência de ameaça de conflito nuclear, o argumento dos países nucleares é a possibilidade de terroristas adquirirem a tecnologia ou as armas.
Essa tecnologia está disponível. A questão é a capacidade de desenvolver industrialmente as armas e os vetores para atingir os alvos.
Nenhum grupo terrorista detém os vetores (mísseis e aviões), nem a estrutura industrial para produzir o urânio enriquecido, nem a técnica para fabricar detonadores. Por outro lado, os terroristas poderiam obter essas armas justamente onde existem, nos países nucleares.
Nesse contexto se insere o Protocolo Adicional. O TNP prevê que todos os países-membros assinem acordos de salvaguardas com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), pelos quais os Estados não nucleares submetem a inspeção todas as suas instalações nucleares. O objetivo do acordo é verificar se há, para fins militares, desvio de material nuclear da instalação (reatores, usinas de enriquecimento etc.).
O Brasil tem atividades nucleares exclusivamente para fins pacíficos, como determina a Constituição, e tem um acordo de salvaguardas com a AIEA, que permite à agência inspecionar instalações brasileiras. Tudo com respeito à soberania nacional e a nossos interesses econômicos.
A AIEA, por proposta americana e a pretexto do programa do Iraque, elaborou um modelo de protocolo adicional aos acordos de salvaguardas, permitindo a visita de inspetores, sem aviso prévio, a qualquer local do território dos países não nucleares para verificar suspeitas sobre qualquer atividade nuclear, desde pesquisa acadêmica e usinas nucleares até a produção de equipamentos, como ultracentrífugas e reatores.
O Protocolo Adicional constituiria uma violação inaceitável da soberania diante da natureza pacífica das atividades nucleares no Brasil, uma suspeita injustificada sobre nossos compromissos constitucionais e internacionais e uma intromissão em atividades brasileiras na área nuclear.
Essa intromissão causaria graves danos econômicos, quando se consideram as perspectivas brasileiras na produção de combustível nuclear, que terá forte demanda com a necessidade de enfrentar a crise ambiental.
A solução ambiental exige a reforma da matriz energética, tanto nos emissores tradicionais, como os EUA, quanto nos de rápido desenvolvimento, como a China e a Índia.
Uma das mais importantes fontes de energia não geradora de gases de efeito estufa é a nuclear. O Brasil tem grandes reservas de urânio, tem o conhecimento do ciclo de enriquecimento do urânio e a capacidade para produzir reatores, ultracentrífugas, pastilhas etc. e, assim, pode vir a atender uma crescente demanda externa.
A preservação do conhecimento tecnológico é, assim, aspecto essencial na área nuclear. Ora, as ultracentrífugas de tecnologia brasileira são as mais eficientes do mundo. Há grande interesse de certos países em ter acesso a suas características, uma das consequências da assinatura do Protocolo Adicional, que, no caso do Brasil, seria um instrumento desnecessário, intrusivo, prejudicial e humilhante.

Rubens Ricupero disse “Sim” e escreveu:
Adesão não contraria interesse nacional

Da mesma forma que a democracia, segundo Churchill, é a pior forma de governo, exceto todas as demais, o Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP) é desigual e injusto, mas superior às alternativas existentes. Durante os 40 anos de sua vigência, renunciaram à arma atômica 11 países que já a possuíam ou desejavam adquiri-la (entre eles Brasil, Argentina e África do Sul).
Dos 4 que se tornaram nucleares, 3 (Índia, Paquistão e Israel) jamais assinaram o TNP, e a Coreia do Norte teve que deixá-lo antes de construir a bomba. O controle das armas de destruição de massa não é impossível, pois desde Hiroshima e Nagasaki o mundo viveu 65 anos sem que a tragédia se repetisse.
Brasil e Argentina tomaram juntos a decisão de abandonar seus programas nucleares rivais, desarmando perigosa corrida armamentista na América Latina e abrindo caminho à integração do Mercosul.
O processo culminou, em 1991, com a assinatura do acordo entre o Brasil, a Argentina, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e a Agência Argentino-Brasileira de Controle, pelo qual os dois países aceitaram as inspeções da agência da ONU.
A adesão ao TNP constituiu a consequência natural, pois a proibição da arma nuclear já constava da Constituição de 1988 e o acordo de 1991 havia criado para o país todas as obrigações que decorreriam do tratado.
Quando a adesão se deu, em 1997-1998, os únicos que não haviam assinado eram Índia, Paquistão e Israel, que tinham para isso uma razão: queriam adquirir a bomba (o quarto era Cuba, que aderiu logo depois). Que sentido teria tido para o Brasil ficar de fora, em companhia dos três belicistas, se já havíamos assumido na prática as obrigações do TNP?
O mesmo argumento se aplica ao Protocolo Adicional, que não é mais que a aceitação de fiscalização reforçada. O Brasil é dos raros países que permitem à agência acesso até a suas instalações militares. O que teríamos a temer se nada temos a esconder?
Alega-se que deveríamos proteger a originalidade de nossa tecnologia. O objetivo é legítimo, mas, segundo especialistas, pode ser perfeitamente assegurado pela negociação com a agência de modalidades que preservem os segredos tecnológicos.
Até agora, a recusa era justificada pelo desinteresse do governo americano de cumprir a obrigação de desarmamento constante do TNP.
A situação mudou totalmente com o advento do governo Obama, o acordo com a Rússia para redução de ogivas nucleares e a nova estratégia dos EUA, que restringe o papel das armas nucleares. Ainda se está longe do desarmamento, mas é mudança construtiva que deve ser encorajada.
Neste momento, a persistência da recusa será vista como obstrução à evolução positiva em curso. A infeliz coincidência com a visita do presidente Lula a Teerã avivará suspeitas sobre nossas intenções.
Cedo ou tarde, o processo de reforço do TNP conduzirá à proibição da exportação ou importação de urânio enriquecido e restrições de acesso tecnológico para os que rejeitam o protocolo. É risco gratuito quando nossa tecnologia pode ser preservada por negociação cautelosa.
Se o real motivo for armamentista, equivale a golpe gravíssimo contra a Constituição. O argumento da soberania não procede, pois a adesão não contraria o interesse nacional.
Que interesse haveria em adquirir a bomba para país que não está sob ameaça ou em zona de conflito, tendo completado 140 anos de paz ininterrupta com seus dez vizinhos?
Na hora lancinante da catástrofe do Rio de Janeiro, só o delírio de grandeza e a perda de contato com a realidade explicam desviar recursos escassos para prioridades erradas e desnecessárias como os desvarios atômicos. A realidade que chega pela tela da TV nos revela aonde estão nossos inimigos: não no exterior, mas aqui dentro.
A corrupção e a incompetência diante da urbanização selvagem, a patética incapacidade de salvar vidas, a falta de dinheiro para dar casa decente aos trabalhadores -são essas as ameaças a enfrentar. E não será com submarinos nucleares e urânio enriquecido que vamos diminuir um só desses perigos reais e imediatos.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Rio, a cidade re-partida


Hoje li no Globo que, com as chuvas do Rio, “nem mansões escapam dos riscos de deslizamento”.  E a reportagem diz ainda que técnicos da Geo-Rio estudam a hipótese de o deslizamento ameaçando casas de um condomínio de luxo da Gávea “ter sido provocado por infiltrações do esgoto de ocupações irregulares na Rocinha”, uma das principais favelas cariocas, incrustada na Zona Sul. O morador de uma das casas, obviamente aterrorizado com a situação, indignou-se: “- Pagamos IPTU de R$ 25 mil e, por causa de ocupações ilegais, temos que deixar nossa casa”.
A indignação é mais do que justa. Mas serve também para ilustrar esse contraste social profundo, cara a cara, que o Rio vive diariamente e eternamente. O Rio mostrou-se uma cidade partida (expressão que se eternizou graças ao livro de Zuenir Ventura, de 1968, tratando da violência local) também pela chuva. Por mais que a catástrofe tenha atingido a todos, de todas as classes, é sem dúvida a parte menos favorecida socialmente que sofreu mais. E não adianta dizer que o problema é de gestão ou que o culpado é esse Prefeito ou o anterior. Claro que esses motivos fazem parte do pacote de culpas, mas o buraco é mais embaixo.
A propósito, gostei muito da entrevista do Vice-Governador Pezão, ontem na Globonews, quando ele concorda com todas as críticas feitas pelo professor Moacyr Duarte, especialista em análise de risco da  Coppe, mas lembra que esse país não tinha uma política habitacional, que ficou 15 anos com o sistema financeiro travado, sem garantir casa para quem mais precisa. A política elitista que dominou o país até bem pouco tempo é que deve ser responsabilizada por toda essa tragédia.
Aproveito para citar trecho da interessante pesquisa de Lise Sedrez sobre as chuvas de 66/67 (bem atual, embora pareça um pouco antiga): “Nossa pesquisa planeja responder a três perguntas principais: primeiro, em que medida as chuvas se tornaram parte do cotidiano da cidade, um desastre esperado e temido? Segundo, como as chuvas de 66/67 se inserem na memória da cidade, estabelecendo a enchente não como um desastre natural, mas como incapacidade do Estado de cumprir seu papel? E, terceiro, de que forma os diversos setores da população – governo, flagelados, igreja, setores técnicos – negociam através da imprensa os significados das enchentes, e lutam por seus próprios projetos de ocupação do espaço político e do espaço urbano”.
Abaixo, foto do estrago feito pelas chuvas de 1966, no bairro de Laranjeiras, onde o espaço permanece aberto até hoje. Sobre o ocorrido, Lise Sedrez lembra: “Esta ruptura das barreiras sociais ocorreu literalmente em 1966, quando um deslizamento de terra, arrastando casebres e pedras de um morro, destruiu um prédio de classe média em Laranjeiras. Era só o começo. Saques, racionamento, colapso dos serviços de emergência (ou uma clara imagem de sua precariedade), lembravam aos moradores cariocas que a chuva era o menor dos seus problemas”.


terça-feira, 6 de abril de 2010

Cesar Maia trata Gabeira e Marina como descartáveis


Muito bom o texto de Cesar Maia sobre o imbroglio eleitoral no Rio de Janeiro. De um lado demonstra a confusão em que vive a oposição por toda parte. De outro, mostra Cesar Maia dando aula de esperteza política no verde Gabeira e sua turma. Reproduzo aqui, com destaques em negrito que acrescentei e com alguns comentários também em negrito.

O "IMBRÓGLIO ELEITORAL" NO ESTADO DO RIO!

1. Em ano de eleição, cada vez que surge um conflito entre políticos ou entre partidos, o que está, de verdade, por trás dos fatos são os votos. No caso do Estado do Rio, há um complicador adicional: a candidatura de Marina da Silva. Em 2006, Heloisa Helena teve 6% dos votos no Brasil e 14% no Rio. Então é natural que os candidatos que apóiam Marina Silva queiram potencializá-la no Rio. Até porque, o elemento vinculante pelo número deve agregar legenda aos deputados.
2. Por isso, além do espaço que foi conquistado por razões de alternativa política local, com a candidatura a governador, querem ampliar esse espaço fazendo aparecer o número de Marina mais vezes na TV. Por isso, o interesse em lançar candidato a Senador e obter algum tempo dos partidos associados na campanha de governador. Excluindo os compreensíveis problemas político-hepáticos, é esta a questão central.
“Problemas político-hepáticos” é demais!
3. Em 2009, quando se configurava compulsoriamente uma campanha presidencial em dois turnos, a afirmação de uma candidatura a governador no Estado do Rio apoiada pelos partidos da base de Serra (PSDB-DEM-PPS) era um dado importante para tirar espaço da candidata presidencial do PT. Mas o quadro mudou. A eleição se tornou polarizada, eliminou a possibilidade de inclusão de Ciro Gomes e Marina, com toda a generosidade da imprensa, continuou patinando no mesmo patamar.
4. Dessa forma, criou-se um quadro que a eleição presidencial pode ser decidida no primeiro turno, bastando para tal, que um candidato supere o outro pela votação de Marina. Observando 2006, isso é possível, na medida em que se projeta, no final de agosto depois da entrada da TV, o mesmo emagrecimento que ocorreu com Heloisa Helena. E esta, estava na época, com níveis bem mais altos do que estará Marina em 2010.
5. Assim sendo, o entorno de Serra, respeitando os avanços que já se tinham feito no Estado do Rio, com seus três partidos em relação à candidatura a governador de interesse de Marina, passou a reavaliar, para dentro, esse quadro. A conclusão óbvia é que não vale a pena mais estimular a candidatura de Marina no Estado do Rio, pois Serra pode ganhar no primeiro turno. E se deixou o barco flutuar.
Em outras palavras, perceberam que Marina, além de não crescer nas pesquisas, tira voto de Serra, por ter um eleitorado em potencial com perfil semelhante ao do tucano. Aliás, como falei aqui em postagens de agosto do ano passado (por exemplo, “Marina Silva, fatos e versões” e Lula andou lendo este Blog”).
6. Paradoxalmente, quem resolveu esticar a corda, exigindo ruptura da coligação para ganhar mais tempo de TV no Senado, foram os que apóiam Marina. Durante 8 meses a mesma cantilena deles na imprensa, pedindo a exclusão do DEM. Os partidos da base de Serra se mantiveram silentes. Esse comportamento foi entendido, ingenuamente, pelos apoiadores de Marina, que havia campo para avançarem. E assim o fizeram declarando que excluiriam o DEM da coligação, usando os argumentos mais esdrúxulos contra um candidato que co-lidera as pesquisas ao Senado e que abre entre os eleitores de renda mais alta.
7. O resultado é que, precipitado pelos que apóiam Marina, se reabriu a possibilidade de se rever a decisão anterior e com isso se reabrir a discussão sobre a candidatura a governador, passando-se a usar o numero 45 nela. É possível que isso leve a eleição estadual para ser decidida em primeiro turno, o que seria algo razoável, pois não se teria eleição estadual no RJ no segundo turno. São essas as questões em discussão atrás das cortinas, e o que vem a público são vozes emanadas de lá e desconectadas do conjunto.
Cesar Maia coloca em dúvida a necessidade de apoio à candidatura de Gabeira a Governador (já que será mais rentável ter um candidato com o número 45 (o mesmo de Serra) do que o número 43 dos verdes, que seria apenas desperdício de tempo). Ao mesmo tempo, reconhece que Sérgio Cabral deve mesmo vencer – e para Serra talvez seja melhor que ele vença no primeiro turno, porque poderia reduzir a participação do PMDB fluminense na hipótese de segundo turno.

Gabeira e Cesar Maia, qual a diferença?


Foi-se o tempo em que se podia pensar em traçar linha divisória bem nítida entre os perfis do Deputado Fernando Gabeira (PV) e do ex-Prefeito Cesar Maia (DEM). Aliás, os dois são extremamente parecidos em suas trajetórias da esquerda para a direita.
Cesar Maia começou na esquerda estudantil como militante do PCB. Com o golpe militar, foi pro exílio no Chile e na volta entrou no PDT de Brizola. Depois, PMDB, PFL, PTB, e PFL novamente, que agora se chama DEM.
Gabeira, como militante do MR-8, fez parte da luta armada contra o golpe militar. Foi pro exílio e na volta entrou no PT, depois PV, PT novamente e PV novamente.
Cesar Maia deu sua guinada para a direita quando largou Brizola. Gabeira demorou mais na viagem, fez um estágio ecológico (com destaque para a maconha) e depois usou o ex-Deputado Severino Cavalcanti como trampolim para alcançar os apetitosos votos conservadores com um discurso ético bem ao estilo de Cesar “Lacerda” Maia.
Unidos pelo discurso, trataram de se opor ao Governo Lula e, na esfera do Estado do Rio, ao Governo Sérgio Cabral. Foi assim que se lançaram candidatos a Governador (Gabeira) e a Senador (Cesar), em uma grande aliança de apoio ao tucano Serra (que inclui ainda a “alternativa” Marina). Tudo bem lógico. Mas parece que toda essa lógica desandou com as águas de março. Trazendo pesquisas debaixo do braço, Gabeira, depois de elogios ao neo-aliado, decidiu alegar que a aproximação de Cesar Maia afasta 17% de seus eleitores. E por incrível que pareça ele tem alguma razão.
O voto conservador de Gabeira tem tonalidade Zona Sul, mais festiva do que a Zona Norte, que tipifica o voto conservador de Cesar Maia (que, além disso, conquistou também largas fatias de voto popular). Como todo esse imbroglio acontece unicamente na Capital – que é onde Gabeira tem voto – podemos concluir que esses olhos verdes estão mirando apenas 2012, quando acontecerão as eleições municipais.
Diferenças profundas não existem mais – unidos pela esquerda no passado, os dois estão cada vez mais firmes na curva para a direita.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Pesquisa Vox Populi: a falsa questão sobre o questionário


Li no Painel da Folha de sábado questionamentos sobre o questionário elaborado pelo Vox Populi na última pesquisa para a Presidência. Diz o texto:
Prancheta 1. Chama a atenção, no questionário de pesquisa Vox Populi sobre a sucessão presidencial com campo em 30 e 31 de março, a inclusão de pergunta relativa aos cargos que os candidatos já ocuparam, quebrando o fluxo das respostas espontânea e estimulada sobre intenção de voto. Esse tipo de procedimento é conhecido por distorcer resultados.
Prancheta 2. Para completar, as opções diante do nome de José Serra (PSDB) estão incompletas. Há apenas "governador" e "governador de São Paulo".
Não tenho procuração do Vox Populi para defendê-lo, mas me parece um questionamento absurdo. O questionário tem 9 perguntas (mais 12 para traçar perfil da amostra e mais uma para uso interno do instituto) claras e sem as segundas intenções insinuadas. Reproduzo abaixo as três perguntas que envolvem o questionamento (o questionário completo pode ser obtido aqui), mas quero logo observar:
  1. Não há quebra de fluxo, porque não há obrigatoriedade da "pergunta 13" (estimulada) vir imediatamente após a espontânea ("pergunta 11") e a "pergunta 12" não interfere em nada
  2. O conjunto de perguntas dentro de “pergunta 12” procura aprofundar a identificação do nível de conhecimento de cada um dos candidatos
  3. Esse aprofundamento não é acadêmico, não precisa demonstrar conhecimento do currículo completo do candidato – basta, como foi feito, referir-se a um cargo mais recente
  4. Se há distorção nos resultados seria devido ao fato de existir pergunta espontânea (por acaso tratei do assunto dia 30, aqui no Blog) e as prejudicadas no caso seriam Dilma e Marina, por serem menos conhecidas.
  5. Seria importante que o Vox Populi divulgasse logo os resultados das outras perguntas (principalmente sobre rejeição, avaliação do Governo Lula e identificação do candidato apoiado por Lula) e seus cruzamentos
  6. O fato é que Dilma cresceu em intenções de voto – e o desespero da oposição é não poder ocultar isso.
Vejas as pesguntas 11, 12 e 13:
11. SE A ELEIÇÃO PARA PRESIDENTE DA REPÚBLICA FOSSE HOJE, EM QUEM VOCÊ VOTARIA? (ESPONTÂNEA)

(ANOTAR NOME – CUIDADO COM A GRAFIA)
70 - Ninguém/Branco/Nulo
80 – NS
90 – NR

12. VOU CITAR PARA VOCÊ O NOME DE ALGUNS POSSÍVEIS CANDIDATOS A PRESIDENTE E GOSTARIA QUE VOCÊ ME RESPONDESSE ALGUMAS PERGUNTAS SOBRE CADA UM DELES. VAMOS FALAR DE:

(LER PAUSADAMENTE OS NOMES – ALTERAR ORDEM DE LEITURA)
CIRO GOMES, DILMA ROUSSEFF, JOSÉ SERRA E MARINA SILVA.


A) COM RELAÇÃO A ___________ (VARIAR A ORDEM DE LEITURA DOS NOMES) VOCÊ DIRIA QUE:
1 - Conhece bem/tem muitas informações sobre ele(a) > APLIQUE B
2 - Conhece, mas não muito/tem apenas algumas informações sobre ele(a) > APLIQUE B
3 - Conhece só de nome/só de ouvir falar-----> APLIQUE B
4 - Não conhece/É a primeira vez que ouve falar o nome ----\ VÁ PARA O PRÓXIMO NOME
5 - NR-----/ VÁ PARA O PRÓXIMO NOME
B) PARA CIRO GOMES: VOCÊ SABERIA ME DIZER QUAL CARGO CIRO GOMES OCUPA/OCUPOU?
1 – Acertou (Deputado, Ministro, Governador)
2 – Errou (outro cargo)
3 – NS 4 – NR
PARA DILMA ROUSSEFF: VOCÊ SABERIA ME DIZER QUAL CARGO DILMA ROUSSEFF OCUPA/OCUPOU?
1 – Acertou (Ministra, Ministra Chefe da Casa Civil, Ministra do Gov. Lula)
2 – Errou (outro cargo)
3 – NS 4 – NR
PARA JOSÉ SERRA: VOCÊ SABERIA ME DIZER QUAL CARGO JOSÉ SERRA OCUPA/OCUPOU?
1 – Acertou (Governador, Governador de São Paulo)
2 – Errou (Outro cargo)
3 – NS 4 – NR
PARA MARINA SILVA: VOCÊ SABERIA ME DIZER QUAL CARGO MARINA SILVA OCUPA/OCUPOU?
1 – Acertou (Senadora, Ministra do Meio Ambiente, Ministra do Gov. Lula)
2 – Errou (outro cargo)
3 – NS 4 – NR

13. (MOSTRAR ANEXO 2) SE A ELEIÇÃO PARA PRESIDENTE FOSSE HOJE E OS CANDIDATOS FOSSEM ESTES, EM QUEM VOCÊ VOTARIA?
1 - Ciro Gomes (PSB)
2 - Dilma Rousseff (PT)
3 - José Serra (PSDB)
4 - Marina Silva (PV)
5 - Ninguém/Branco/Nulo
6 – NS
7 – NR

domingo, 4 de abril de 2010

Vox Populi: somente Dilma cresce em intenções de voto



(Clique no gráfico para ampliar.)

Essa nova pesquisa Vox Populi divulgada no sábado pela Band ainda traz poucas informações (2.000 entrevistas, margem de erro máxima de 2,2 pontos percentuais). Mas deixa uma coisa bem clara: de janeiro para cá, a única candidatura à Presidência da República que teve crescimento em intenções de voto foi a da petista Dilma Roussef. Os outros nomes estagnaram. Aguardaremos mais dados.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Eleições, 2010: os rachas do Rio pelo Senado


A disputa pelas duas vagas no Senado está abalando a política no Rio como poucas vezes foi visto. O primeiro arranca-rabo foi dentro do próprio PT, entre Benedita da Silva e Lindberg Farias, com vitória do prefeito petista através de prévia eleitoral. Instantaneamente, o racha se espalhou dentro da base aliada do Governo, com um arranca-rabo ainda maior entre Lindberg e o cacicão peemedebista Jorge Picciani – que por sua vez resolveu partir também para cima de Marcelo Crivella (PRB), o preferido de Lula.
Na Oposição o abismo entre aliados não é menor – embora até há pouco tempo parecesse um mar de tranquilidade. A resistência ao nome de Cesar Maia (DEM) para disputar a vaga começou com o que parecia “implicância” do presidente do PV, Alfredo Sirkys, sem endosso do candidato verde ao Governo, Fernando Gabeira. Mas a coisa foi ganhando outro contorno. O perfil do eleitorado do PV e de parte do PSDB (Andrea Gouvêa Vieira, Marcio Fortes, etc.) não combina com o perfil do eleitorado de Cesar Maia e da outra parte do PSDB (Zito, por exemplo). Junto à classe média da Zona Sul, a rejeição a Cesar Maia é alta. Mas junto à classe média mais conservadora ele é pule de 10. Tudo começou a parecer incontornável com a nova posição de Gabeira anti-Cesar Maia. O candidato “demo” (que não depende tanto dos votos dos eleitores de Gabeira) lembra a todos que, sem ele, o a re-eleição de Sérgio Cabral pode se confirmar ainda no primeiro turno. Gabeira no entanto parece não estar nem aí para a disputa estadual. Talvez ele sonhe apenas com a Embaixada de Paris, que uma hipotética vitória de Serra poderia lhe garantir...
Enquanto isso, os rachas continuam.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Os movimentos com o Bispo que Lula faz no tabuleiro fluminense



Lula tem como objetivos eleitorais principais no Rio re-eleger Sérgio Cabral Governador e re-eleger Marcelo Crivella Senador. São objetivos óbvios (já que o estado do Rio de Janeiro, como terceiro colégio eleitoral do Brasil, é fundamental para alcançar o objetivo estratégico de eleger Dilma), mas que exigem muito conhecimento do jogo eleitoral. É verdade que fechar a parceria do PT local com o peemedebista Sérgio Cabral acabou sendo mais fácil do que aparentava inicialmente (o alarido de resistência feito por Lindberg acabou ficando pra trás em um belo en passant). Mas a eleição de Marcelo Crivella ainda cobra muita concentração de Lula. Os movimentos requerem precisão, por tratar-se de uma candidatura considerada estratégica em muitos aspectos. Crivella, afinal, representa o poder evangélico da Igreja Universal com sua Rede Record – espécie de fianchetto duplo (ou uma abertura Larsen) na proteção do Governo Lula de ataques frontais do Império Global.
Acontece que, apesar de sua liderança incontestável nas pesquisas, Crivella conta com altíssima taxa de rejeição, principalmente na Capital – e isso já lhe custou três derrotas para Prefeito e Governador. Seu partido, o PRB, é nanico e deve lhe garantir apenas algo em torno de ½ minuto por programa eleitoral de Rádio e TV, o que é insignificante. É necessário, portanto, que Crivella seja acomodado em uma aliança vencedora, que lhe dê tempo no Horário Eleitoral e abra espaço privilegiado em todas as regiões. E é aí que mora o problema.
Garotinho poderia ser uma alternativa, mas também está em partido nanico e ainda insiste em campanha de ataques-suicidas a Sérgio Cabral.  E a aliança principal em torno do PMDB e do PT já conta com seus próprios candidatos, Picciani e Lindberg (aliás Crivella acaba de ter grande avanço nesse campo, com o afastamento de Benedita da Silva, sua maior ameaça na conquista do eleitorado de perfil popular). Picciani, cacicão do PMDB, mesmo estando em posição difícil nas pesquisas, não recua nenhuma casa na decisão de candidatar-se ao Senado. E Lindberg, espécie de enfant terrible do momento, faz grande alvoroço, tornando complicado qualquer acordo.
O tempo está correndo e o Grande Mestre Presidente já fez uso de todas as táticas possíveis, sem sucesso. Trocou peão... fez roque... usou os cavalos... avançou a rainha... mas ainda não conseguiu efetuar o sonhado xeque-mate. Vai acabar tendo que virar o tabuleiro...

A título de curiosidade, lembro que “estratégico” é mesmo um adjetivo bastante colado em Crivella, já que os nomes para a pasta de Assuntos Estratégicos têm sido indicação sua. Temos como exemplo Mangabeira Unger e o atual titular, Samuel Pinheiro Guimarães (que, em seu ótimo livro “Desafios Brasileiros na Era dos Gigantes”, faz dedicatória a Lula e Celso Amorim, e não deixa de agradecer a contribuição de Crivella). Vai ver que foi por isso que Lindberg andou insinuando que convidaria Celso Amorim para ser seu suplente na chapa para o Senado. Lula que não é bobo vetou.