segunda-feira, 30 de junho de 2008

César Maia para Montenegro, do Ibope: por que não te calas?

O Prefeito do Rio, César Maia (DEM, ex-PFL), reagiu duramente às declarações recentes do Diretor do Ibope, Carlos Augusto Montenegro, quando deu pitaco nas eleições do Rio sem acreditar muito na candidata do Dem, Solange Amaral. Disse César Maia hoje em seu ex-Blog:
UMA SUGESTÃO AO IBOPE!
O Montenegro, do Ibope, poderia parar de fazer projeções eleitorais. Como é contratado exclusivo da TV Globo, termina deixando mal essa emissora e informando mal sua enorme audiência. Aliás, pelos erros cometidos no Rio-Capital, com suas projeções e pesquisas efetivas nos últimos anos, deveria no mínimo ter precaução. Afinal, a TV Globo usa seus números para divulgá-los e decidir sobre participação em debates. Seria melhor seguir o conselho do Rei Juan Carlos a Chávez.
As declarações de Montenegro que certamente incomodaram César Maia saíram no Nhenhenhém de sábado no Globo:
Tiroteio de apostas no violento Leblon Às vésperas do tiroteio de ontem no Leblon, o local estava tão calmo que eu pude ouvir com muita nitidez uma conversa do diretor do Ibope, Carlos Augusto Montenegro, com uns amigos.
(...)
Alguém, finalmente, se interessou pelas eleições deste ano e perguntou sobre o Rio de Janeiro.
- Aqui não tem essa de que o Crivella já estaria no segundo turno. Ele disputará a vaga com Jandira e Eduardo Paes. É cedo para afirmar quais deles irão para o segundo turno.

domingo, 29 de junho de 2008

Brasil 16 x 4 Áustria, Inglaterra, URSS, País de Gales, França, Suécia

Eu não poderia deixar passar os 50 anos da Copa de 58 no zero a zero. Quero homenagear esse feito maravilhoso lembrando que desde 1958 nenhuma Copa do Mundo teve média de gols acima de 3. Naquele ano, a média foi de 3,6 (126 gols em 35 jogos). A média dos gols nos jogos do Brasil foi de 3,33 (20 gols em 6 jogos). E o Brasil, sozinho, fez 16 gols, sofrendo apenas 4. Se os cartolas internacionais e as Nikes da vida quiserem, é possível voltar a termos médias altas. Vamos torcer.

sábado, 28 de junho de 2008

Viva Mandela, o ex-"terrorista"

É emocionante ver as homenagens a Mandela, com seus 90 anos de serviços muito bem prestados à humanidade. Pessoalmente, sinto orgulho de ter participado em Paris de uma manifestação por sua libertação. E fico chocado quando leio a notícia de que o Senado americano anulou o rótulo de terrorista que era ligado a Mandela em documentos", classificação que lhe deram porque, "antes de ser preso, ele pegou em armas contra o governo racista da África do Sul". Quantos outros "Mandelas" o Governo americano ainda guarda em seus documentos?

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Eleição em São Paulo: Marta sobe, Alckmin cai

O resultado da pesquisa Ibope divulgada ontem (contratada pelo Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas de São Paulo e Região, com 602 entrevistas, entre 21 a 23 de junho, margem de erro de 3,66% na faixa dos 30%) foi cristalino: Marta subiu, Alckmin caiu um pouco e Kassab escorregou. A grande mídia prefere destacar 31% para Marta, mas esse cenário, com Erundina candidata, não existe mais, porque o PSB está apoiando Marta. Os números que interessam são os que estão no quadro acima.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Eleição no Rio: Globo 1 X 0 Crivella

O Senador Bispo Crivella, candidato do PRB à Prefeitura do Rio, velejava com todos os ventos a favor nesta eleição. Com muita sabedoria, ampliou o alcance de seu voto popular, ao mesmo tempo em que ocupou grandes e variados espaços na mídia. Seu carro-chefe da corrida eleitoral, o Projeto Cimento Social no Morro da Providência, avançava com certa tranqüilidade, ultrapassando facilmente um ou outro obstáculo midiático. O resultado positivo podia ser medido no crescimento de seu nome nas pesquisas de intenção de voto. Mas foi aí que um desvairado tenente do Exército que deveria proteger a população da Providência resolveu destruir esse cenário encantado, entregando 3 jovens moradores para seus inimigos no mundo do tráfico. A Globo, inimiga feroz do grupo Crivella-Igreja Universal-Rede Record, não esperou a fumaça baixar. Partiu para o ataque, coordenando todas as ações anti-Crivella. Contribuiu ferozmente para que seu projeto micasse e suas chances de eleger-se Prefeito em 2008 fossem reduzidas drasticamente. Com isso, foi lançada imensa interrogação sobre o futuro das eleições cariocas. Acredito que ele ainda terá fôlego para chegar ao segundo turno, mas acho que pode dar adeus à vitória final. A grande beneficiada é Jandira Feghalli, candidata do PCdoB, que poderá contar com mais apoio de Lula e assim chegar tranqüila ao segundo turno. A Deputada Solange Amaral, do partido de César Maia, também poderia contar com algum benefício, se não tivesse que enfrentar agora o malefício de Eduardo Paes (PMDB) na cola de seus votos. O Deputado Fernando Gabeira (Tucano-Verde), o Deputado Paulo Ramos (PDT) e o Deputado Chico Alencar (PSOL), todos fora do páreo, não têm nada a perder ou a ganhar. O Deputado Filipe Pereira, do PSC, ainda não aconteceu na disputa. E o Deputado Alessandro Molon (PT) vai continuar tranqüilo, porque, como diz um diretor bem conhecido de um instituto de pesquisa, "pode ser considerado o grande vitorioso de 2008, já que conseguiu garantir a sua eleição para Deputado Federal". Desgostosos de verdade estão o Prefeito César Maia (DEM, ex-PFL), a Secretária de Estado Benedita (PT) e o Ministro Lupi (PDT), que sonhavam com as duas vagas para o Senado em 2010 - e agora já sabem que uma delas vai continuar com Crivella...

terça-feira, 24 de junho de 2008

Eleição americana: ajuda terrorista para McCain?

Charles R. Black Jr., um dos principais consultores políticos do candidato Republicano Jonh McCain, declarou que "um ataque terorista ajudaria McCain" ("Terror Strike Would Help McCain"). Ele está mentindo? Claro que não. Os Presidentes e candidatos Republicanos têm pautado suas estratégias eleitorais pelo medo da ação terrorista. Eles conseguiram enfiar na cabeça do eleitor americano que eles são melhores para combater o terrosrismo - talvez porque eles mentem mais, matam mais, torturam mais, bombardeiam mais, perdem mais soldados americanos e, com issoo, ganham mais dinheiro... Obama está certo. Está na hora da mudança. Leia mais no Washington Post.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

A cobertura desigual sobre a queda da desigualdade

Deu hoje na coluna "Toda Mídia", de Nelson de Sá, na Folha:
Pobres e ricos
Na manchete de telejornais como "Jornal da Band", mas não do "Jornal Nacional", "Cai a desigualdade". Em sites como Folha Online e "O Estado de S. Paulo", "Salário da baixa renda sobe quatro vezes mais que o de ricos". E em portais como UOL e iG, "Renda dos pobres sobe mais e reduz a desigualdade". O portal da Globo, G1, que até postou a manchete "Desigualdade caiu" por algum tempo, sublinhava na home que, "em algumas regiões do país, ricos ainda ganham 23 vezes mais que os mais pobres".
Os grifos são nossos para demonstrar a insistência das Organizações Globo em tentar sempre ver algo de ruim no Governo Lula. Nada contra em também informar sobre o que existe de ruim. Mas essa é uma notícia para ser bastante comemorada. A informação não pode ser "chapa branca", mas não precisa ser forçadamente desigual.

sábado, 21 de junho de 2008

Eleição americana: o que faz diferença a favor de Obama

A revista Nesweek divulgou pesquisa que aponta o candidato Democrata Barack Obama com 15 pontos à frente do Republicano John McCain na corrida pela Casa Branca, enquanto a pesquisa USA Today / Gallup apresenta diferença de apenas 6 pontos (50% a 44%). Selecionei algumas informações interessantes na pesquisa da Newsweek, que foi feita nos dias 18 e 19 de junho com 1.010 eleitores, margem de erro +/- 4%. Obama tem grande vantagem entre:
  • os eleitores independentes (48 a 36)
  • os eleitores não-brancos (71 a 16)
  • as mulheres (54 a 33)
  • os eleitores entre 18 e 39 anos (66 a 27)
  • os simpatizantes de Hillary Clinton (69 a 18)
Para enterrar de vez a candidatura de McCain basta a dobradinha Bush com a direita de Israel fazer a besteira de atacar o Irã. Dessa vez, não terão o apoio interno que houve na época da caça a Saddam.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Eleição no Rio: Crivella foi decisivo para que Molon continuasse candidato

A pressão para que o Deputado Alessandro Molon retirasse a candidatura em favor de Jandira Feghalli, do PCdoB, e com isso contribuir para a aliança do PT com partidos da esquerda, visando principalmente 2010, foi muito forte. Mas a contrapressão foi mais forte e ela tem um nome: Marcelo Crivella, candidato à Prefeitura do Rio pelo PRB. Se o PT declarasse apoio explícito a Jandira, significaria uma declaração de guerra ao grande aliado Crivella, à Igreja Universal e à Record. Com certeza o PT perderia apoio dessa importante força pelo resto do país. Crivella não se importa em abrir mão de candidaturas por aí afora. O que importa é o Rio de Janeiro. Molon fora do páreo, tudo bem. Apoiando Jandira, nem pensar! Com isso, Molon ganha sobrevida. Recupera prestígio e aumenta o cacife pra uma negociação no segundo turno. Por sua vez, os candidatos proporcionais petistas podem contar com alguns votos a mais na legenda, massificando o número 13 com a foto de... Lula.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Eleição no Rio: Molon cada vez mais distante do PT

A situação do Deputado Alessandro Molon, candidato (ainda) petista à Prefeitura do Rio é muito curiosa. Depois de uma história de firmeza no trabalho legistativo, depois da ousadia na luta difícil pela indicação partidária, depois de subir aos píncaros com o apoio do PMDB do Governador Sérgio Cabral à sua candidatura e depois de ser nocauteado pela retirada do mesmo apoio, Molon ganhou uma grande projeção, com muita presença na mídia. Pena que seja uma projeção negativa... Ele se transformou na pedra no sapato de um grande acordo do PT com os outros partidos de esquerda, porque não desiste de sua minguada candidatura em apoio à candidatura fortalecida de Jandira Feghali do PCdoB. Claro que o partido não deve simplesmente descartá-lo. O PT tem o dever de proteger a imagem de seus quadros, principalmente um tão importante como Molon. Mas ele tem que ajudar. Está se tornando quixotesco ao não abrir mão da candidatura, alegando que "é impossível mudar de idéia" (como destaca o Globo de hoje) porque "não há possibilidade de abrirmos mão da missão que a base do partido nos confiou". Na verdade, boa parte do partido já se sentia abandonada por ele logo após a sua indicação. Ele teria se afastado até mesmo de nomes que ajudaram na sua indicação. Teria demonstrado intransigência e ingenuidade política na condução de sua pré-campanha e já causava irritação na maioria dos aliados. Talvez a base do partido que ele diz representar não exista mais. E não vai ser batendo o pé que vai sair dessa de cabeça erguida. É um nome expressivo e ele próprio tem que saber dar valor a isso.

terça-feira, 17 de junho de 2008

Eleição no Rio: o tiro pela culatra do candidato Crivella

No ano passado, o Senador Bispo Crivella, candidato do PRB à Prefeitura do Rio, me falou com entusiasmo e me deu um DVD sobre o Projeto Cimento Social no Morro da Providência, Rio de Janeiro. Conversamos um pouco sobre o local (primeira favela carioca, que subi em 2000 para fazer o primeiro programa da campanha de Benedita), mas, principalmente, fiquei ouvindo ele falar sobre o projeto, a nova tecnologia no revestimento (ele é engenheiro também) e a importância para a comunidade, com casas melhores e mais seguras (à prova de bala). Não nos encontramos mais. Mas tenho acompanhado com interesse seu trabalho como candidato, e tenho ficado bem impressionado por sua desenvoltura e eficiência, mesmo sem contar com nenhum marqueteiro a tiracolo. Seu trabalho de assessoria de imprensa tem sido irretocável e, até agora, não tinha notado nenhum erro de campanha. Mas Crivella errou feio ao acreditar que a presença do Exército no projeto seria sinônimo de segurança absoluta. Qualquer Pesquisa Qualitativa com discussão em grupos de áreas mais carentes mostraria uma visão diferente do papel do Exército. É verdade que a presença das Forças Armadas costuma transmitir sensação de segurança, e o melhor exemplo disso foi a Eco 92, que reuniu inúmeros Chefes de Estado (ainda durante o Governo Collor) e mostrou um Rio de Janeiro de calma e tranqüilidade. É verdade também que se fala muito de um "acordo" entre a Polícia Federal com os traficantes para que reinasse a paz naqueles dias e que as armas dos soldados estavam sem munição. Com tudo isso, a sensação de segurança foi muito valiosa. Mas, como eu dizia, as discussões de grupo acabam revelando que a população também tem noção de que isso dura pouco. Com o tempo, os soldados acabam adquirindo os mesmo vícios dos policiais. Pior: a grande maioria dos soldados vive em comunidades dominadas pelo tráfico. Resultado: os soldados podem se tornar reféns dos traficantes e, algumas vezes, podem estar a seu serviço. Esse episódio no Morro da Providência com exposição prolongada do Exército no serviço policial demonstra a necessidade de extremo cuidado em uma decisão desse tipo. A revelação da cumplicidade de seus oficiais e soldados em ato de barbárie contra membros da comunidade foi um verdadeiro tiro na testa na imagem do nosso Exército. E acabou espalhando estilhaços contra a campanha até agora impecável de Marcelo Crivella.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Eu sou você ontem...

O Painel de Renata Lo Prete, na Folha de hoje, a propósito da crise tucana no Rio Grande do Sul, dá a seguinte nota: "É ou não é? Em 14 de julho de 2005, no auge da crise do mensalão, a então deputada federal Yeda subiu à tribuna para apontar "o mar de corrupção que se organizou no palácio" e perguntar: "Não é caso de impeachment?".

Globo versus Globo

O Globo de hoje é um bom exemplo de como opera um jornal que se preocupa mais em fazer oposição sistemática do que em informar com um mínimo de objetividade. Na sua primeira página, aquela que fica exposta nas bancas para ser vista por milhões de transeuntes, o jornal estampou "PIB cresce 5,8% com mais gastos de governo". Na parte interna, na seção de Economia, para ser lida apenas por especialistas ou curiosos mais especializados, a manchete é outra: "Demanda interna faz país crescer 5,8%". Na reportagem completa você pode ter informações que de certo modo desmentem a manchete da primeira página. Por exemplo: "um crescimento totalmente baseado na demanda doméstica"; "As eleições fizeram o consumo do governo ter a maior expansão desde o primeiro trimestre de 2002, também ano eleitoral. Frente ao fim de 2007, o avanço foi de 4,5%. Contra o início do ano passado, 5,8%. Rebeca (Rebeca Palis, gerente de Contas Nacionais Trimestrais do IBGE) afirma que as taxas foram puxadas pelos estados e municípios"; "a demanda doméstica avançou 7,7%"; "Outro ponto positivo foi o investimento (alta de 15,2%)"; "aumento do crédito habitacional, que fez a construção registrar seu melhor momento desde 2004, como um dos fatores a impulsionar o investimento no início do ano"; "foi a indústria que levou a economia no primeiro trimestre". Todo cuidado é pouco ao se ver um jornal hoje em dia.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

O impossível acontece: Banco Central brasileiro vira exemplo para Fed americano

Meninos, eu li. Está lá no site da BBC: "Fed deveria se inspirar no BC do Brasil, diz Le Monde". Trata-se de um artigo publicado nesta terça no jornal francê Le Monde dizendo que o presidente do Fed (Banco Central Americano), Ben Bernanke, deveria inspirar-se na política monetária brasileira. Leiam o resto da notícia:
O jornal destaca o recente aumento da taxa de juros de 11,75% para 12,25% imposto pelo Banco Central brasileiro e opina que a “política de juros altos saneou a economia brasileira”.
“A taxa de poupança no Brasil é o dobro da dos Estados Unidos, o déficit da balança de pagamentos é moderado, os brasileiros consomem menos do que os americanos e economizam mais. A taxa de crescimento do país deverá ultrapassar os 4% este ano.”
“Ben Bernanke, presidente do Fed, deveria se inspirar na política monetária brasileira”, afirma o diário francês.
Remédio brasileiro
Segundo o Le Monde, a alta taxa de juros no Brasil serviu durante muito tempo para bancar investimentos em uma economia de riscos.
“Hoje já não é mais o caso”, diz. “A dívida externa do Brasil é inferior a 50% de seu Produto Interno Bruto, as contas correntes estão perto do equilíbrio e o déficit público é baixo, mesmo que os juros altos aumentem a dívida do governo”.
O jornal diz que o Brasil não está mais na lista dos países de risco desde que a agência de avaliação de risco Standard & Poor’s concedeu o grau de investimento.
“Os Estados Unidos estampam um grande déficit em sua balança de pagamentos e está com a moeda fraca. A taxa de poupança é baixa, às vezes negativa; o governo está mergulhado em déficits mesmo mantendo o crescimento do país”.
“Uma política monetária à brasileira poderia remediar esses problemas”, conclui o Le Monde.

Barack Obama, a queda do neoconservadorismo e Lula

Bem interessante a entrevista desta segunda, na Folha, feita por Sérgio Dávila com Immanuel Wallerstein, o sociólogo americano progressista, conhecido pela "teoria do sistema mundial". Leiam o que foi publicado:
Obama é resposta contra reação conservadora
Para sociólogo progressista, se eleito, democrata marcará fim da ascensão neoconservadora nos anos 80, ocorrida com a eleição de Ronald Reagan e em resposta às idéias de 1968
A ELEIÇÃO de Barack Obama criará um espaço hoje inexistente para ações sociais nos Estados Unidos. As mudanças que constam do slogan do democrata só ocorrerão de verdade se houver pressão popular. É a entrada da questão social ou de classe na agenda política norte-americana, segundo o teórico de esquerda da Universidade Yale, questão essa que o país esconde atrás do termo "problema econômico".
SÉRGIO DÁVILA, DE WASHINGTON
Immanuel Wallerstein está animado. Aos 77 anos, esse sociólogo de esquerda da Universidade Yale acredita que seu candidato, Barack Obama, será eleito e que, se pressionado, reagirá com mudanças sociais nos Estados Unidos. De qualquer forma, para o autor de "O Declínio do Poder Americano" (Contraponto, 2004) e freqüentador do Fórum Social de Porto Alegre, só a candidatura do democrata já traz a questão ao centro da política norte-americana. "Isso é muito saudável, pois, superada essa discussão primitiva de raça e sexo, chegamos à discussão sobre classe, que é para onde caminha essa eleição." É essa questão, defende, que levou as pessoas a comparecerem em número recorde à fase de prévias partidárias, encerrada na última terça, e deve fazer o mesmo em novembro, nas eleições gerais. Leia a seguir os principais trechos de sua entrevista à Folha, por telefone, de New Haven (Connecticut).
FOLHA - A eleição presidencial deste ano ressuscita de alguma maneira as questões de 1968, não?
IMMANUEL WALLERSTEIN - Primeiro, devo dizer que apóio Barack Obama, acredito que ele vá ser eleito, batendo com facilidade o republicano John McCain, e terá maioria no Congresso. Minha análise é à luz dessa hipótese. Assim, a relação é muito simples. Se pensarmos que aquele 1968 quebrou as barreiras para os chamados grupos minoritários nos EUA, sua candidatura é uma das conseqüências. Se pensarmos que 1968 proporcionou uma abertura para os EUA repensarem seu papel no mundo, eis outra conseqüência atual. Mas não esqueçamos do intervalo no meio do período entre 1968 e 2008, que foi a contra-revolução neoconservadora dos anos 80 [com a chegada de Ronald Reagan ao poder], com a tentativa de fazer o país retroceder à era pré-1968, tanto em termos de influência cultural quanto de economia global. Agora, o pêndulo está indo rapidamente em direção oposta. Onde vai parar é uma incógnita. Mas, em geral, a era dos neoconservadores parece estar chegando ao fim nos EUA e, conseqüentemente, no mundo.
FOLHA - Ainda assim, não é um retrocesso que o país esteja discutindo racismo e sexismo 40 anos depois?
WALLERSTEIN - [Risos] Esse país vem discutindo raça e sexo há cem anos. A discussão vai continuar. O sexismo é um elemento fundamental do capitalismo mundial, não vai sumir. Mas hoje essa discussão tem menos impacto político imediato nos EUA do que antes. Isso é muito saudável, sobretudo porque superada essa discussão de certa maneira primitiva de raça e sexo, chegamos à discussão sobre classe, que é para onde caminha essa eleição. Nos EUA nós não dizemos questões sociais, questões de classe, preferimos usar o eufemismo "problemas econômicos", mas é apenas sintaxe para mascarar a realidade. O fato é que a questão mais premente da corrida será a crise econômica mundial em geral e dos EUA em particular.
FOLHA - Classe, não raça, mesmo com um dos candidatos majoritários sendo negro?
WALLERSTEIN - Veja, há pessoas nos EUA que nunca votarão em um negro, como há pessoas que nunca votariam numa mulher. Mas há muito menos do que antes, esse é o primeiro aspecto, e basicamente a maioria, se não a totalidade, já vota em republicanos de qualquer maneira. Então, não importarão do ponto de vista da candidatura de Barack Obama.
FOLHA - Daí o domínio do que o sr. chama de questão de classe.
WALLERSTEIN - Sim. Isso tem levado aos altos índices de comparecimento às urnas até agora nas prévias. E indica claramente que caminhamos para uma participação recorde nas eleições de novembro. E esses votos vêm basicamente de pessoas das classes mais baixas, que normalmente não votam porque não acham que as coisas vão mudar de verdade. Essas pessoas estão sendo impelidas a votar por suas necessidades e porque acham que algo pode realmente acontecer.
FOLHA - O sr. escreveu que a pergunta não é que mudanças um candidato como Obama fará mas sim quais conseguirá fazer. Quais?
WALLERSTEIN - Por ser uma democrata, ele tentará minimizar as perdas dos americanos que foram mais atingidos pela crise econômica. Mas não acho que as ações do presidente dos EUA nesse momento histórico importem muito para a economia mundial. Essa já tem uma dinâmica própria, que passa ao largo da Casa Branca. Acredito que a maior mudança que o próximo presidente poderá fazer será no campo doméstico. Por exemplo, os juizes indicados para os tribunais federais. Poderá reverter a situação terrível deixada pelo governo de George W. Bush em termos de direitos civis e individuais. Poderá agir para integrar negros, hispânicos e mulheres à nossa cultura política. Essas mudanças são internas, mas muito importantes. E Obama sofrerá uma grande pressão popular para implementá-las.
FOLHA - O sr. não acha que a frustração seria inevitável? A grande expectativa de mudança, e de certa maneira definida por ele em termos tão vagos como foi até agora, não levaria a isso?
WALLERSTEIN - Sim, é indubitavelmente verdade que as expectativas sobre o que ele pode fazer são exageradas. Por outro lado, tudo depende do grau de influência e pressão que os movimentos sociais norte-americanos terão sobre as eleições. Se eles conseguirem fazer as pessoas sentirem que devem ser levadas em conta, certas coisas serão alcançadas. A verdadeira questão é quanta pressão conseguirão fazer depois que ele for eleito. Minha impressão é que a eleição de Obama criará um espaço para ação popular, mas ele não será o ator dessas mudanças, apenas responderá à pressão por elas.
FOLHA - O sr. foi um dos primeiros acadêmicos a escrever que os EUA como potência hegemônica sofreriam declínio. Foi ridicularizado. Sente-se vingado?
WALLERSTEIN - [Risos]Quando escrevi na revista "Foreign Policy" o artigo "The Eagle has Crash Landed" [A águia se estatelou, em tradução livre], em 2002, fui praticamente chamado de maluco. Agora, menos de seis anos depois, muita gente relevante fala o mesmo. Venho dizendo isso em artigos pelo menos desde os anos 80.
FOLHA - Em seu livro sobre "sistema-mundo" [em que analisa o que chama de globalização do capitalismo], os países são classificados em centrais, semiperiféricos e periféricos. Mas a ascensão de economias como Índia e Brasil não é prevista. O sr. não acredita que essas economias possam vir a ser centrais?
WALLERSTEIN - Meu modelo analítico prevê que, sob condições como as atuais, alguns países semiperiféricos como o Brasil podem se tornar centrais. Mas prevê também um espaço limitado para que tais países sejam centrais. Ou seja, alguém tem de sair para outro entrar. Mas falamos de países muito grandes, com populações enormes, e, em termos de acumulação capitalista, não é possível que tantas pessoas acumulem tanto capital, pois há um montante limitado de riqueza, com distribuição limitada. Para resumir uma teoria mais complexa, não acho que os EUA como potência hegemônica serão substituídos por outro ou outros países com as mesmas características. Embora ache que os países do Leste Asiático estejam se tornando mais poderosos.
FOLHA - O sr. esteve algumas vezes no Brasil. Como vê o governo Lula?
WALLERSTEIN - Lula tem sido uma força positiva na política brasileira, mas ele realizou bem menos do que as pessoas esperavam. Tem uma política econômica muito complicada cujo sucesso não é claro no momento. Um dos problemas de Lula é que ele nunca teve maioria legislativa e não tenho certeza se alguém um dia vai ter no Brasil, com o sistema atual. Em geral, no entanto, minha atitude parece com a adotada pelo MST [Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra] nas últimas eleições presidenciais: não há alternativa senão apoiá-lo.

Folha contra o partidarismo do JN

A coluna Toda Mídia, de Nelson de Sá, na Folha de hoje, dá duas estocadas no Jornal da Nacional da Globo, denunciando sua parcialidade no noticiário, com posição claramente tucana. Vale a pena ler:
UM MÊS DEPOIS
Por qualquer razão, o "Jornal Nacional" deu o caso Alstom na sexta, exatamente um mês depois de sair em manchete no "Wall Street Journal". Citou por fonte "a bancada do PT". E nada de mencionar PSDB ou o governo paulista, só o Metrô, "sob suspeita" por um "contrato de 1994". Não entrou na escalada de manchetes. Sábado, mais Metrô. Fora da escalada e sem citar governo, o "JN" deu que o IPT culpa "sucessão de erros" pelas mortes na Linha Amarela.
YEDA, DO PSDB
Também o escândalo no Rio Grande do Sul chegou ao "JN", enfim, no sábado. No caso, com escalada e menção a "Yeda, do PSDB" e seu vice "do Democratas". Mas nada do PPS do chefe da Casa Civil, flagrado no áudio falando do financiamento de legendas via estatais gaúchas.

domingo, 8 de junho de 2008

Lula e a alternativa à esquerda para 2010

Todo mundo sabe que as eleições municipais de 2008 são em larga medida movidas pelo espírito de 2010. Nesse ponto o PMDB é craque, e está em movimento acelerado, preparando-se para ser mais uma vez o infiel da balança. Não é que o PMDB esteja insatisfeito com o Governo Lula, muito ao contrário. Mas é que faz parte da natureza do partido a ameaça pendular de infidelidade. E é isso que ele indica nos três grandes centros com o apoio a Serra e, de certo modo, com a aproximação de Aécio e o rompimento da aliança com o PT no Rio. Claro que há fatores locais com força específica, como é o caso do Rio de Janeiro, onde o fracasso da candidatura Molon estava levando o governo peemedebista de Sérgio Cabral a um beco sem saída. Já não tinha argumentos para segurar os outros caciques do partido e, por seu lado, estava correndo o risco de ficar alijado da disputa do segundo turno, diante do provável confronto entre Crivella (PRB) e Jandira (PCdoB). Seja por questões estritamente locais, seja pela ameaça genérica de infidelidade, Lula e o PT já perceberam que não podem se prender unicamente à opção PMDB. Assim, correm para fortalecer laços mais à esquerda, como o que está sendo tentado em São Paulo e agora também no Rio, junto ao PCdoB. Contra a ameaça da infidelidade, é fundamental contar com outros fiéis – ou outra balança...

Jogo do grande erro: JB tira Yeda Crusius do PSDB

Leia a reportagem abaixo com atenção (clique para ampliar). E tente encontrar o PT no meio da corrupção tucana lá do Sul que o título anuncia. Não consegui encontrar nem mesmo uma pena vermelha...

Jandira ao PT do Rio: vão ter que me engolir

O clima eleitoral no Rio vivia uma pasmaceira de dar dó. Crivella (PRB), grande beneficiado pelo marasmo, planava em correntes ascendentes. Jandira (PCdoB), Gabeira (Tucano-Verde) e Solange Amaral (DEM, ex-PFL) faziam de conta que concorriam e os outros nem faziam de conta. Essa era a sensação que se tinha nas últimas semanas. Ah, tem também o Prefeito César Maia, esse, sim, trabalhando sem parar - mas mesmo assim mais preocupado com 2010. Com o rompimento da aliança PMDB-PT, voltou a confusão. O Governador Sérgio Cabral já sonha com a disparada de Eduardo Paes nas pesquisas (antes, ele andava na faixa dos 7% a 9%). Jandira, Gabeira e Solange já se preocupam com os votos que podem estar perdendo para o peemedebista. A candidatura petista de Molon está atônita. E a candidatura de Chico Alencar (PSOL), por enquanto não conta. O fato cômico é a possibilidade de Molon tornar-se Vice na chapa de Jandira em função de entendimentos nacionais. Cômico por dois motivos: primeiro, porque há dois anos ela entrou em atrito com a Igreja Católica (berço de Molon) por causa da questão do aborto; segundo, porque em 2006 o PT apostou tudo na não-eleição de Jandira para o Senado (preferiu Dornelles), exatamente para enfraquecê-la na eleição de 2008. A aliança pode até acontecer, mas vai ser muito indigesta para o PT do Rio. Mais indigesta do que o Picciani foi.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Eleição no Rio de Janeiro: Picciani e Zaqueu farão o duelo do ano

No rompimento da aliança do PMDB com o PT pela candidatura a Prefeito do Rio anunciado ontem, pelo menos um efeito colateral parece ter sido mais forte do que o efeito principal. Tudo porque o poderoso dirigente peemedebista fluminense, Deputado Jorge Picciani, declarou que não aceitava o fato de Zaqueu Teixeira, do PT de Queimados, não desistir da candidatura contra o candidato peemedebista Max, seu pupilo. Queimados é uma cidade da Região Metropolitana fluminense, com 88 mil eleitores e PIB per capita de 6.840 reais (58º lugar, dos 92 municípios do estado, segundo o IBGE 2005). Pequena, portanto, mas com poder de fogo suficiente para destruir a aliança da Capital. Graças a isso, Zaqueu Teixeira voltou a ganhar as páginas dos jornais, com direito a foto na página 3 do Globo, lado a lado com o poderoso Picciani. Antes, Zaqueu ganhava destaque por seus feitos policiais como Chefe de Polícia nos 9 meses do Governo Benedita. Ele começou o mandato comprando briga com Garotinho, as denunciar erros nas estatísticas policiais do Governo Rosinha. Depois ganhou mais destaque ainda ao prender, sem precisar dar um único tiro, o traficante Elias Maluco que tinha torturado e matado o jornalista Tim Lopes. Zaqueu dizia então que a inteligência é mais forte do que a violência - e saiu com essa idéia na cabeça para se tornar político. Foi derrotado nas duas tentativas eleitorais, a primeira para Prefeito, em 2004, e a segunda em 2006, para Deputado Federal. Mas agora parece que se apresenta com mais consistência eleitoral - tanto que sua desistência virou questão de honra para Picciani. Zaqueu - que na semana passada saiu do Ministério da Justiça para se candidatar - me procurou hoje e declarou: "Quiseram me transformar em bode expiatório do imbroglio carioca, mas só conseguiram garantir a minha vitória em Queimados". Pareceu bem feliz e cheio de gás para a disputa.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Eleição no Rio: Fatos & Versões

Não há fatos que expliquem o rompimento da aliança entre PMDB e PT no Rio de Janeiro. O que existe é um número interminável de versões. Os personagens mudam, de acordo com as versões. As cidades inegociáveis também. De repente, dizem outros, são outros negócios que estão em jogo. Entram e saem vários culpados. E agora, no PT, para felicidade de alguns personagens peemedebistas, discute-se até se o partido continua ou não continua participando do governo estadual. E eu aqui do meu canto continuo insistindo: se a candidatura estivesse bem nas pesquisas, nada disso teria acontecido.

Eleição no Rio: Queimados, Resende e Cabo Frio versus Rio de Janeiro

Encontrado um culpado para o fracasso da aliança do PMDB com o PT na cidade do Rio de Janeiro. Um culpado, não - três. Segundo consta, das contrapartidas colocadas pelo PMDB, três eram inegociáveis: as candidaturas para Prefeito de Queimados, Resende e Cabo Frio, das quais o PT deveria desistir e passar a apoiar os candidatos do PMDB (que aparentemente lideram nas pesquisas de intenção de voto). Das três cidades, apenas em Queimados o PT tem um candidato (Zaqueu Teixeira, ex-Chefe de Polícia Civil do Governo Benedita) que parece que está bem nas pesquisas. De qualquer maneira, o PT teria tido dificuldades em ceder, o que teria enfurecido o Deputado Jorge Picciani. Diante da situação, ele teria preferido apoiar seu quase desafeto Eduardo Paes a candidatar-se a Prefeito pelo PMDB a manter a aliança em torno de Molon no Rio de Janeiro. A perplexidade é geral, mas reafirmo que, se a candidatura Molon tivesse deslanchado, nem mesmo Picciani teria coragem de romper a aliança. Agora só resta ao Governador Sérgio Cabral tentar não falar grego no seu telefonema para Lula...

Eleição no Rio: o que será que melou no Molon?

Leio agora no Plantão do Informe do Dia, de Jan Theophilo: "Aliança PT e PMDB caminha para o fim - O presidente da Alerj Jorge Picciani (PMDB), o presidente do PT do Rio, Alberto Cantalice, e o deputado Gilbeto Palmares (PT) estão reunidos neste momento no prédio administrativo da Assembléia, na Rua da Alfândega. A reunião é tensa. O PT não ofereceu ao PMDB nenhuma das contra-partidas exigidas pelo partido para formar a aliança. A expectativa é que, nas próximas horas, seja anunciado o rompimento da aliança em torno da chapa Alessandro Molon e Régis Fichtner". Acho que a aliança na verdade não rompeu, porque nem chegou a acontecer de fato. Nunca vi coisa igual. O Deputado Alessandro Molon é um dos mais combativos do Rio Janeiro, tendo conquistado a opinião pública, digamos, mais bem informada por sua disposição para o enfrentamento de forma bem simpática. Soube superar nomes de peso do partido e conquistar a indicação do seu nome para disputar a Prefeitura do Rio. E, para surpresa geral da nação, conseguiu o apoio do PMDB do Governador Sérgio Cabral e do Deputado Picciani. Daí em diante esperava-se uma candidatura em plena ascenção - o que ficou longe de acontecer. Os problemas começaram com as contrapartidas exigidas pelo PMDB. Aliança proporcional é uma delas, significando a possibilidade de menos Vereadores eleitos pelo PT. Mas isso teria sido praticamente superado. Aí vieram as alianças no Interior, que geraram mais problemas, alguns aparentemente instransponíveis. Para complicar ainda mais, o candidato Crivella (PRB) e a candidata Jandira (PCdoB), ambos da base aliada do Governo Lula, passaram a agir com extrema desenvoltura, colocando-se em destaque ao lado de Lula, enquanto Molon não conseguia acontecer em parte alguma. O resultado se viu nas pesquisas: cristalização de Molon na faixa dos 2% coroando uma pré-campanha inexplicavelmente incompetente. Se houvesse um mínimo de campanha, com um ligeiro sinal de crescimento, duvido que o PMDB saltasse fora. Mas só se viu amadorismo em toda parte. O que se achava que seria uma grande campanha, muito bem afinada, transformou-se apenas num melô...

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Este Blog errou: foi Hillary quem deu trabalho...

Em 17 de janeiro de 2007, escrevi neste Blog sobre o Senador Barack Obama, que acabava de lançar seu nome para as prévias Democratas pela candidatura a Presidente dos Estados Unidos: "Pode ser que ele não consiga derrotar a Senadora Hillary Clinton, mas está demonstrando que vai dar trabalho". Eu me baseava apenas em dois vídeos, o de lançamento e o de sua biografia (vale a pena ver de novo), que descrevi como "muito bem feitos, com iluminação densa, bonita e surpreendentemente eficiente para um vídeo politico. Ele fala muito bem, tranquilo, convincente, com clareza". Falei de sua história, de sua atuação como líder comunitário em áreas pobres, e repeti sua frase que ficou famosa: "Não existe uma América conservadora e outra progressista, o que existe são os Estados Unidos da América; não existe uma América branca, outra negra, outra latina, outra asiática, o que existe são os Estados Unidos da América". Obama foi muito além do que pude imaginar na época. Revolucionou o modo de fazer campanha nos Estados Unidos. Soube tratar a questão racial, soube tratar a questão do Iraque, soube avançar no voto conservador sem deixar de ser progressista, soube falar com os jovens e, acima de tudo, soube atrair um eleitor novo para o cenário eleitoral. Seus principais estrategistas, David Axelrod e David Plouffe, deram um show de marketing eleitoral. Seu estrategista de internet, Chris Hughes, revolucionou o meio, transformando-o em arma eleitoral com grande poder de fogo. Ao longo da campanha, Obama soube com perfeição identificar-se com mudança, de tal forma que na propaganda o seu nome passou a ser CHANGE (Mudança) - e deu credibilidade e força a esse sentimento. Por seu lado, Hillary Clinton soube dar trabalho e resistir até o fim, usando a velha máquina e os velhos truques sujos eleitorais. Nos estados com eleição direta, chegou a ter mais votos do que Obama (cerca de 17.150.000, contra 16.240.000). E ela chega ao final, apesar de derrotada, cacifada para ser Vice ou ser Governadora de Nova York ou ser futura alternativa no caso da derrota Democrata. Os dois fizeram uma belíssima disputa. E quero dizer, até reformulando o que pensava, que a longa e acirrada disputa acabou beneficiando a candidatura Democrata. Dificilmente McCain conseguirá derrotar a Mudança. Sim, nós podemos acreditar nisso.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Milícia X Sociedade: bom texto de César Maia

A REPORTAGEM FOI FEITA... E DE FORMA CONTUNDENTE!
1. O seqüestro e tortura de repórteres do jornal carioca O DIA, por elementos do grupo para-policial que controla a comunidade onde estavam fazendo uma cobertura, ali vivendo temporariamente, transformou-se numa reportagem - de fato - mais contundente do que se estivessem narrado o cotidiano das relações dos para-policiais com os moradores.
2. Desde o início dos anos 90, quando os traficantes que controlam comunidades deixaram de ter raízes nas mesmas, ocupando-as militarmente, passaram a ter uma relação de terror com os moradores. Com isso, aquilo que se dizia do "efeito Robin Hood" da presença dos traficantes terminou. Por outro lado, a clandestinidade objetiva dos policiais fora de serviço, assassinados gratuitamente por traficantes por serem policiais, estimulou-os a encontrar local de moradia onde eles e suas famílias tivessem seguros.
3. Com isso construiu-se um quadro convergente entre moradores e policiais. Esses - organizados para-militarmente - passaram a expulsar os traficantes de várias comunidades sob o aplauso da população. Uma vez estabelecida uma "nova ordem", outros policiais se mudavam para esses locais e com isso passaram a ser uma tropa de reserva para o caso de traficantes tentarem retomar a comunidade.
4. A manutenção desses novos grupos passou a ser coberta com pagamento mensal pelos moradores e mais receitas obtidas de serviços diversos existentes no local, como cobrança de "segurança". Os primeiros casos produziram a sensação (que não havia com a presença de traficantes) de que as pessoas poderiam circular livremente por seus logradouros e que a relação com os moradores seria de "proteção".
5. A expansão desses grupos para-policiais foi mostrando relações crescentemente autoritárias com os moradores e a transformação da cobrança para cobrir as despesas em negócios do tipo extorsão para proteção.
6. O seqüestro dos repórteres mudou a natureza de sua reportagem. Eles poderiam - em tese - demonstrar que, mesmo ilegalmente, haveria um novo ambiente ali, que a ausência da polícia e o fracasso da segurança pública impunham, quase que como um recurso do tipo desobediência civil. Para muitos, de longe, essa era a impressão. Em tese, os repórteres poderiam ter chegado a essa conclusão.
7. Mas o que a reportagem (num paradoxo) - feita contundentemente -, ao não ser feita, mostrou é que o direito de ir e vir inexistia e que as relações desses para-policiais ali, com os moradores, é também de terror. Portanto, um fato de extrema gravidade, pois reproduz a lógica do tráfico drogas, apenas trocando as fontes de receitas.

Eleição no Rio: adivinhações

Saiu hoje (li na coluna Informe do Dia) nova Pesquisa Ibope sobre a intenção de voto para Prefeito do Rio, realizada entre 25 e 28 de maio, com 805 entrevistas (erro máximo de 3,45%). Pelos números apresentados, que totalizam 67%, podemos concluir que 23% declararam que não sabem em quem votar ou que vão votar em branco ou que vão anular o voto ou que não pretendem votar em nenhum dos nomes apresentados ou simplesmente que não vão votar. Seja como for, 23% é um número alto, e devemos considerar também que os 67% não estão bem consolidados. Mas podemos tirar várias conclusões (mesmo sem conhecer dados completos da pesquisa). A primeira é que Crivella (PRB) continua em alta, com intenção de voto (29%) bem acima dos votos que teve na eleição de 2004 (22% dos votos válidos). Podemos adivinhar daí que Crivella, por seu perfil, detém a maioria do voto chamado "popular" e que tem praticamente garantida sua ida para o segundo turno. Logo, a disputa mais renhida no primeiro turno se dará entre Jandira (PCdoB), Gabeira (Tucanos Verdes), Solange Amaral (DEM, ex-PFL), Chico Alencar (PSOL) e Molon (PT-PMDB-PSB), que se aproximam mais de um perfil que poderíamos chamar de "classe média". Os três primeiros estão tecnicamente empatados e os dois últimos também. Jandira e Solange Amaral, nota-se, já começaram a morder "voto popular". Gabeira e Chico Alencar têm dificuldade em sair da "Zona Sul conservadora". E Molon ainda não saiu do chão (mas certamente sairá). O principal desafio entre os candidatos "classe média" será o de conquistar uma diferenciação mais forte para cada um deles, algo que ajude a tomar os votos dos semelhantes. O outro desafio é mais fácil, mas deixo para o futuro.

domingo, 1 de junho de 2008

Ato contra a vergonha da polícia-bandida conhecida por "milícia"

O Secretário de Segurança do Rio de Janeiro disse uma verdade: os policiais das chamadas "milícias" praticam crime em dobro. Além de não combater o crime, eles próprios tornam-se criminosos. Pior ainda: combater e prender esses criminosos de novo tipo é pelo menos duas vezes mais difícil, porque não conhecemos as ramificações que eles têm dentro da instituição policial - que deveria combatê-los. Se trememos com a luta diária da polícia contra os poderosos dos tráficos, trememos muito mais quando assistimos a uma força mais poderosa ainda (por ser "mutante"), utilizando-se de alto grau de impunidade, circulando facilmente na sociedade. Se ficamos chocados agora com sua brutalidade (porque dessa vez eles atingiram jornalistas), imaginem só o dia-a-dia da população mais pobre vivendo eternamente entre dois (ou mais) fogos cruzados (aliás, não imagine - veja um pouco dessa realidade na reportagem de hoje no Dia.). Que essa brutalidade dos "miliça" ocorrida 6 anos após o que traficantes fizeram contra Tim Lopes sirva de Basta! contra esse estado de selvageria. Todos ao ato promovido pelo Sindicato dos Jornalistas do Rio de Janeiro e pela Federação dos Jornalistas:
O Sindicato e a Federação dos Jornalistas convocam a população do Rio de Janeiro para o Ato de Repúdio ao Estado Paralelo às 16 horas na próxima segunda-feira, dia 2 de junho de 2008, sexto ano do seqüestro e morte do jornalista Tim Lopes. A manifestação será na escadaria da Câmara dos Vereadores (Cinelândia), instituição estratégica nos planos políticos da milícia.