domingo, 30 de setembro de 2007
Conservadores americanos ameaçam lançar um terceiro partido
Dificilmente a ameaça se concretizará, mas aumenta o número de cristãos conservadores horrorizados com a possibilidade de Rudy Giuliani ser o indicado do Partido Republicano para disputar as eleições presidenciais de 2008. E a questão principal estaria na sua defesa do aborto. O que é inadmissível para um Republicano. Leia mais no New York Times.
O negócio do etanol americano está fazendo água
O boom do etanol nos Estados Unidos está perdendo gás. Para se ter uma idéia do que isso significa, de maio para cá o preço do etanol caiu 30%. A gente sempre soube que esse álcool feito de milho não é um bom negócio, mas eles conseguiram torná-lo pior. A correria para iniciar a produção não teve correspondente na distribuição. Houve uma overdose de destilarias, e o consumo é pífio. Para desespero do setor, enquanto o preço do etanol cai, o preço do milho sobe. A coisa deve pegar fogo em janeiro, quando começam as convenções para escolha dos candidatos à Presidência - e começam exatamente em Iowa, o principal estado produtor de milho. Leia mais na reportagem de Clifford Kraus, para o New York Times.
sexta-feira, 28 de setembro de 2007
Bye-bye, Tereza
A jornalista Tereza Cruvinel escreve hoje sua coluna de despedida. Ela sai das Organizações Globo para entrar na TV Pública, como presidente. Parece uma boa escolha. A partir de agora, ela também tem novo papel. Torna-se um dos alvos prediletos, ao lado de Franklin Martins e Helena Chagas, do Prefeito César Maia. Segue a íntegra da despedia de Tereza Cruvinel:
Desta janela vi a passagem dos últimos 20 anos da história política contemporânea. Registrei, observei, tentei compreender e compartilhar a compreensão dos fatos que se sucederam: uma fieira luminosa de círios, uns sendo apagados pelos outros, marcando a trilha da nova democracia brasileira. Deixo este nobre espaço que O GLOBO me confiou para enfrentar um novo desafio profissional, a construção da rede pública de televisão. Quando comecei a escrever aqui, os tempos eram difíceis na política, mas, ainda que não pareça, hoje são melhores.Também por isso, no rito de passagem que esta última coluna expressa, a gratidão pelos ganhos e pelas realizações é maior que o sentimento de perda, próprio das separações. No jornalismo político vi a agonia da ditadura, seu estertor diante das palavras de ordem por anistia e liberdades democráticas. Na campanha das Diretas, a emergência do povo, que seria derrotado pelo Congresso na noite de 25 de abril de 1984. Estive ao lado do grande Timoneiro da Travessia, Ulysses Guimarães, na hora de seu choro. Pela democracia, jornalistas também podiam chorar. A redenção viria com o apoio popular à eleição indireta de Tancredo. “Apesar de você, amanhã há de ser outro dia.” Chico Buarque deu-nos o refrão cantado na Esplanada embandeirada, naquela noite de 15 de janeiro de 1985. Uma nova perda viria com sua doença e morte, mas o sonho democrático era grande e forte. Avançamos no aprendizado da democracia com José Sarney, com a remoção do entulho autoritário, expressão esdrúxula para os mais jovens: restos institucionais da ditadura atravancando o caminho. Com Ulysses, a Constituinte erige o primado da liberdade e da cidadania. E, ainda que tenha produzido um texto equivocado em muitos pontos, deunos as tábuas da democracia, intocáveis nas suas cláusulas pétreas. Na curva, uma nova provação. O governo do primeiro presidente eleito traz a primeira decepção de natureza ética, propiciando o mais severo dos testes para as instituições da nova democracia: seu afastamento pelo impeachment, dentro da lei e da ordem. Fomos aprovados. A imprensa travara o bom combate. Um governo de transição e ampla coalizão como o de Itamar Franco cria as condições para a morte do dragão da inflação. O Plano Real nos leva aos oito anos com Fernando Henrique Cardoso, seu esforço para assegurar a estabilidade numa conjuntura de instabilidade externa. O tempo pede reformas do Estado, que elevam as tensões políticas. O sistema político traz desafios para a governança, as mazelas políticas começam a aparecer, mas a marcha democrática segue.As instituições se consolidam e a liberdade de imprensa vige em pleno viço. A eleição de Lula, por sua origem e trajetória, será mais que uma alternância no poder. Será prova de uma permeabilidade social e de uma disposição mudancista do povo brasileiro que surpreendeu o mundo. Neste quinto ano com Lula, a economia esbanja saúde, há um vento de crescimento, mas o que se destaca, e o que deve ficar como legado, é o investimento maciço no combate à pobreza, na redução da desigualdade social mais escandalosa que todos os escândalos. Os indicadores socioeconômicos alcançam suas melhores marcas históricas, num processo iniciado no governo anterior e acelerado com o aumento dos investimentos. A percepção dessas mudanças sociais vem sendo obscurecida pelo mau tempo na política. Com a dessacralização ética do PT no primeiro mandato e a repetição dos escândalos no segundo, atingindo sobretudo o Congresso, a política é jogada num descrédito ímpar depois da transição. A democracia representativa está em crise no mundo, embora isso não nos console nem deva atenuar as exigências. Não creio, apesar de tudo, que só tenhamos piorado na política. Nunca estivemos livres das mazelas da política.Elas já foram até maiores. As mudanças e transformações da sociedade é que melhoraram nossa percepção delas: a velocidade das comunicações combinada com a liberdade de informação arrancou as velhas cortinas do sistema de poder. Os velhacos e as velhacarias são expostos. São fortes sintomas de que o sistema político está exausto, já não responde às necessidades. Por isso a discussão da reforma política teve sempre abrigo na coluna. Todo este desnudamento traz muita indignação, e isso é saudável. Propicia a busca de diagnósticos e de soluções. Por tudo, não creio que pioramos. No trato diário dos problemas políticos, busquei sobretudo oferecer a mais correta interpretação dos fatos, oferecer elementos para que o leitor-cidadão forme sua opinião. Devo ter cometido erros, mas creio ter feito um saldo maior de acertos. Foi um tempo riquíssimo, irrepetível. Sou grata a todos que, nas Organizações Globo, proporcionaram-me tão privilegiado exercício do jornalismo. Pelos primeiros tempos, os de aprendizado para uma jovem repórter, à memória de Dr. Roberto Marinho e à de Evandro Carlos de Andrade. A Carlos Lemos, quando diretor em Brasília, pela persistência em manter-me na coluna. A João Roberto Marinho, pelo compromisso com o pluralismo, que assegurou minha longa permanência. A Rodolfo Fernandes, amigo antes de diretor de Redação, pelo estímulo, apoio e compreensão, sempre, inclusive na saída. A Alice Maria, pela experiência televisiva tardia na Globonews. Sou gratíssima a todos os leitores de todos os tempos. Aos muitos amigos que ganhei e levo comigo, e homenageio na pessoa ímpar de Jorge Moreno, que para cá me trouxe um dia. Boa sorte ao Ilimar Franco na coluna que fará aqui. Até sempre, a todos os colegas desta grande escola de jornalismo que é O GLOBO.
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Globo engole sapos
Não deve ter sido fácil para as Organizações Globo ter que estampar na primeira página do seu principal jornal, O Globo, a foto de seus 3 principais adversários: Lula, Igreja Universal e Rede Record. Há quem diga que eles fizeram de propósito, tentando demonizar (ainda mais) Lula junto ao seu público conservador de classe média. É bem possível. Mas ainda assim garanto que foram sapos difícil de engolir.
A Terra dos Bárbaros (Baxi Guo) barbarizou na China
Em chinês, a tradução literal (se é que se pode falar assim) de Brasil (Baxi Guo) seria algo como "Terra dos Bárbaros" (assim como América - Mei Guo - seria "Terra da Beleza"). No momento, não existe significado mais apropriado. Porque foi exatamente isso que Marta, Cristiane, Furmiga e sua turma fizeram ontem no Estádio do Dragão jogando contra a Seleção Americana: barbarizaram! E como é bárbaro ver a torcida chinesa vibrando e gritando "Baxi! Baxi". Não perco a final domingo.
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quinta-feira, 27 de setembro de 2007
As candidaturas do Rio ganham mais definição
O Governador Sérgio Cabral parece que já tem seu nome para candidato a Prefeito do Rio pelo PMDB: é o tucano Eduardo Paes. Marcelo Crivella (PRB) é certo. César Maia (DEM, ex- PFL) parece que vem mesmo de Solange Amaral. O nome de Chico Alencar deve representar o PSOL. O PT terá candidato próprio - mas ainda está indeciso entre Benedita, Edson Santos, Molon e Vladimir. PDT e PSB lutam para indicar um Vice. A candidatura de Denise Frossard (PPS) parece pouco provável e a de Jandira Feghali (PCdoB) periga. PSDB, no Rio, não conta muito. Syrkis (PV) quer, mas há dúvida. Na próxima semana, provavelmente haverá maior definição.
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Rebelião de quem contra quem?
Essa rebelião de que falam, que seria de Renam contra o PT e que teria acabado com a Secretaria de Mangabeira Unger (Secretaria de Planejamento de Longo Prazo da Presidência da República), não está totalmente esclarecida. Pode ser extamente o que falam. Mas tenho impressão também que nem mesmo o PRB anda muito satisfeito com o titular da pasta. Será que estou errado?
terça-feira, 25 de setembro de 2007
O Globo errou: José Alencar não afirmou que ganha pouco
Ontem, o PRB convidou várias pessoas para um encontro no Alto da Boa Vista, Rio de Janeiro, com o Presidente em exercício José Alencar e o Senador Marcelo Crivella. Presentes, deputados, prefeitos e vereadores de vários partidos. José Alencar contou umas histórias engraçadas, inclusive sobre os salários de Presidente e Vice-Presidente da República. Mas não disse, como publica O Globo de hoje, que o "presidente e o vice ganham pouco". Ao contrário, ele afirmou que, para quem acha que o salário é pouco (algo em torno de 10 mil), costuma dizer que conta também com luz, água encanada, casa, comida e roupa lavada. E ele estava valorizando isso, com o seu jeito roceiro de ser.
Ahmadinejad em New York: ele até que ia bem, até que escorregou na questão homossexual
O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, teve tudo para marcar um pontaço com a sua palestra na Columbia University, de New York. É verdade que a grande maioria da audiência era hostil ao seu pensamento, mas ele contava com cerca de 30% a seu favor. Mostrou-se sereno, desmentiu que tenha negado o holocausto (segundo O Globo, mas o New York Times diz o contrário), revelou que muitos judeus vivem em paz no Irã (ele seria contra o Estado de Israel, não contra os judeus), disse-se vítima do terrorismo, criticou o massacre que Israel praticaria contra os palestinos, reiterou que é contra a bomba nuclear e que sua política nuclear é pacífica e ainda deu aula de boas maneiras ao reitor de Columbia, Lee Bollinger, que abriu o evento com discurso agressivo e até ofensivo ao presidente iraniano. Ahmadinejad chegou a ganhar aplausos. E poderia até ganhar alguma credibilidade no ninho adversário. Mas teve a insensatez de afirmar que não havia nem um único homossexual no Irã. Foi o bastante para que essa frase virasse manchete em toda parte. Depois disso, quem pode acreditar no que ele diz?
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domingo, 23 de setembro de 2007
Sou classe média
Fiz a pergunta "Afinal, classe média é o quê?" (duas postagens abaixo) e recebi contribuições. O publicitário, de Criação, Luiz Favilla me mandou a resposta dele, na versão de Max Gonzaga, que reproduzo.
Afinal, classe média é o quê?
Eu estava pretendendo escrever sobre essa pesquisa CNI/IBOPE que mostra a expectativa da população brasileira para os próximos seis meses, mas li um texto bem interessante da Tereza Cruvinel no Globo de hoje e preferi reproduzir na íntegra aí mais abaixo. Ela fala, com propriedade, que a oscilação negativa do Governo Lula ocorreu na classe média: "Não na 'nova classe média' que o governo considera fruto de suas políticas, composta por pobres emergentes que estão entrando na sociedade de consumo, mas na velha e tradicional classe média, de gente com curso superior que ganha mais de dez salários mínimos e que, na campanha do ano passado, votou mais em Alckmin que em Lula". Isso me recordou que há um tempo atrás quase escrevi sobre a classe média para um livreto que o jornalista Luiz Gutemberg pretendia editar. Por falta de tempo, acabei não dando continuidade. É um tema que sempre envolve muitas interrogações. As organizações clandestinas de esquerdas, nascidas na classe média, tinham verdadeira ojeriza ao assunto em suas intermináveis discussões teóricas. A ABIPEME - Associação Brasileira de Institutos de Pesquisa de Mercado resolve sua questão com sua classificação sócioeconômica com pontos que envolvem renda, formação escolar, posse de bens de conforto familiar e chega à seguinte pontuação: classe A, 89 pontos ou mais; classe B, de 59 a 88 pontos... e por aí vai. É uma saída, mas que nem sempre dá certo. Conheço o recrutador de um instituto de pesquisa que costuma dizer: "Ás vezes um camarada classificado como classe A chega aqui, eu olho o sapato e vejo logo que não é..." No nosso momento específico, onde vemos uma espécie de aliança entre os partidos de oposição, com a grande imprensa e os setores mais conservadores do que seria a classe média, a melhor definição talvez seja a que meu amigo Laerth Pedrosa costumava dar quando morava na Inglaterra. Em vez de falar middle class (classe média, em inglês), ele preferia usar medium class - algo como classe dos veículos de comunicação de massa. Faz sentido. A seguir, o texto "Classe média", de Tereza Cruvinel:
A divulgação dos indicadores socioeconômicos favoráveis ao governo coincidiu com a revelação, pela pesquisa CNI-Ibope, de uma queda, ainda que ligeira e dentro da margem de erro, na popularidade do presidente Lula. Os 50% que em junho consideravam o governo bom e ótimo caíram para 48%, e os 66% que aprovavam a forma de Lula governar, para 63%. Mais uma vez, a oscilação negativa ocorreu dentro da classe média. Não na “nova classe média” que o governo considera fruto de suas políticas, composta por pobres emergentes que estão entrando na sociedade de consumo, mas na velha e tradicional classe média, de gente com curso superior que ganha mais de dez salários mínimos e que, na campanha do ano passado, votou mais em Alckmin que em Lula. Deve haver, na composição da variação negativa de agora, resquícios do apagão aéreo e respingos da crise do Senado, que envolveu um aliado importante como Renan Calheiros, ao lado de quem Lula nunca se recusou a aparecer. O julgamento do STF também pode ter despertado a lembrança da decepção com os escândalos do PT. A pesquisa mostrou elevada rejeição à CPMF. Mas se, na média, 54% defenderam o fim do imposto ainda este ano, na classe média o índice foi de 72%, contra 48% entre os que ganham de dois a três salários mínimos. Se a aprovação média do governo foi de 48%, entre os pobres foi de 53% e na classe média, de 38%. Ainda é um bom índice, sinal de que a rejeição não é hegemônica, embora o contraste interclasses seja grande. A rejeição da classe média a Lula era bem mais baixa no início do primeiro mandato, 11%, segundo o Datafolha de março de 2003. Em 2004, depois do caso Waldomiro, a aprovação ao governo Lula no segmento começou a cair. Com o escândalo do valerioduto, em 2005, a rejeição passou a dominar a classe média. Nessa época, o Datafolha registrou 46% de rejeição ao presidente nessa camada social, contra uma aprovação de 18%. Na campanha de 2006, Lula recuperou parte da classe média, sobretudo no segundo turno, neutralizando a preferência anterior de Alckmin, que perdeu 2,5 milhões de votos no segundo turno. O governo continua querendo reconquistar a classe média, mas não encontra o discurso e a política certos. Iniciado o segundo mandato, o grande estrago foi feito pelo apagão aéreo. Avalia que ela também vem se beneficiando do crescimento, embora os pobres é que estejam ganhando mais. E isso, de certa forma, indispõe os segmentos médios mais conservadores ou mesmo preconceituosos, que, receando perder alguma coisa, reagem a qualquer distribuição. Detestam o Bolsa Família. A popularidade é alta entre os pobres, mas o governo sabe que, tendo a classe média contra, é sempre mais difícil governar. Continua querendo reconquistá-la. No pronunciamento do ministro Mantega, na sexta-feira, houve mensagens nesse sentido. Por isso, entre as concessões tributárias que podem ser apresentadas para garantir a aprovação da CPMF no Senado, pode surgir uma nova mexida no Imposto de Renda. Uma correção do valor das deduções por dependente e gasto escolar cairia bem.
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Blackwater é considerada grupo terrorista no Iraque
A Blackwater, a maior das empresas de segurança responsáveis por cerca de 130 mil homens em ação no Iraque, está sendo considerada grupo terrorista. É assim que ela é tratada nos relatórios dos ministérios iraquianos do Interior, de Segurança Nacional e de Defesa: "o assassinato a sangue frio de cidadãos praticado pela Blackwater em Nisour é considerado como ação terrorista contra civis assim como qualquer outro ato terrorista", diz a reportagem de James Glanz e Sabrina Tavernise no New York Times de hoje. O lógico seria o Governo Bush passar a combater a Blackwater tanto quanto combate Bin Laden. A questão é que ela foi criada pelo religioso ligado a Republicanos Erik Prince, um dos maiores doadores da campanha de Bush...
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sábado, 22 de setembro de 2007
Maternidade britânica em crise
O jornal The Independent deste domingo traz uma grave denúncia: cerca de 1.000 bebês dos que nascem mortos por ano poderiam estar vivos. Eles poderiam ser salvos, "se médicos e parteiras fossem melhor treinados para perceber sinais vitais". O pior é que não há sinais de declínio nos índices de mortes nos partos, apesar de todos os avanços médicos. Se lá é assim, imagine como estamos por aqui...
quinta-feira, 20 de setembro de 2007
Renan, PNAD, FGV, CPMF, cenário internacional... isso tudo está deixando a Oposição sem posição
A Oposição parece mais atônita do que na época do segundo turno da eleição passada. Achava que tinha encurralado o Governo Lula com a história mal contada de Renan Calheiros, mas perdeu. E perdeu feio, graças ao envolvimento secreto de vários senadores saídos de suas hostes. Pensou também que herdaria a cobiçada Presidência do Senado, mas Renan decidiu mais uma vez que não ia dar mole. Acreditou (ou fez o populacho de classe média acreditar) que acabaria com o CPMF e já perdeu a primeira batalha na Câmara, com altíssima possibilidade de perder também no Senado. Como se tudo isso não bastasse, vieram as pesquisas e novas confirmações sobre o excelente desempenho da política econômica atual. O país passou ao largo da crise internacional (que, aliás, está terminando, graças à queda dos juros americanos), bateu recordes de redução da pobreza e de diminuição do abismo entre pobres e ricos. Ah, sim, a crise aérea também já aterrissou. O que resta à Oposição é cabalar votos juntos aos setores mais atrasados da clsse média brasileira, contando com apoio integral do seu principal instrumento de agitação e propaganda (agitprop), que é a grande imprensa. Mas até agora isso tem-se mostrado insuficiente na conquista do poder central. O que mais a Oposição vai inventar? Depois de tantas defecções, em que posição vai ficar?
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Deus e o Diabo na terra de João Paulo II
Segundo o jornal El País, na reportagem "El abogado del diablo", o processo de santificação de João Paulo II pode sofrer forte abalo. Tudo por causa do livro do historiador britânico David Yallop, "O poder e a glória, a história oculta do papado de João Paulo II". Nele, David Yallop desmonta todos os mitos que que serviram de sustentáculo moral de Karol Wojtyla. "Um pontificado tão grandioso em seus propósitos quanto distorcidos em seus resultados", disse ele. E continua: "La incapacidad para acabar con la corrupción en el Vaticano; su actitud encubridora de abusos sexuales a menores por eclesiásticos en varios países (en EE UU y Austria, sobre todo, pero también en España); la empecinada protección que dispensó al fundador de los Legionarios de Cristo, Marcial Maciel, finalmente castigado a marcharse de Roma por Benedicto XVI a cambio de olvidar procesos por pederastia contra él y varios de sus sacerdotes; las relaciones con siniestros dictadores como el chileno Pinochet, o la inmisericorde execración de teólogos de la liberación a los que acusaba de hacer política en Latinoamérica (él, el más político de los papas), son aspectos que empañan esa biografía". O curioso é que esse papel de "advogado do diabo" era regulamentado no Vaticano desde 1587, com o objetivo de levantar provas de virtudes ou de pecados de futuros santos. Mas o "advogado do diabo" foi abolido em 1983... por João Paulo II.
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terça-feira, 18 de setembro de 2007
Estados Unidos sofrem sua maior derrota no Iraque: a Blackwtaer está sendo suspensa no país
A notícia mais surpreendente de hoje (O Globo) diz que "o governo iraquiano suspendeu ontem as atividades no país de uma das mais poderosas companhias de segurança privadas americanas, a Blackwater, que garantia, entre outros serviços, a proteção da Embaixada dos Estados Unidos. O motivo, segundo Bagdá, foi um incidente envolvendo seguranças de empresa e que terminou com a morte de oito iraquianos". Como já escrevemos neste Blog em maio, a Blackwater é a maior dessas empresas de segurança americana no Iraque que atuam quase como fornecedoras de mercenários. Já são cerca de 130 mil homens nessa condição de "exército paralelo" e a Blackwater, a maior de todas, foi criada há dez anos por religioso ligado a republicanos, Erik Prince, um dos maiores doadores da campanha de Bush. Jeremy Scahill, autor de "Blackwater - The Rise of the World's Most Powerful Mercenary Army" (Ascensão do Exército Mercenário mais Poderoso do Mundo, Nation Books), defende que a empresa é a Guarda Pretoriana da Era Bush). O pior é a falta de regras para o controle dos mercenários. "Diferentemente dos soldados, que respondem ao código de conduta do Pentágono, os 'privados" se encontram numa zona juridicamente cinzenta". Se a Blackwater fose expulsa do Iraque, seria bem capaz de Bush decidir aumentar a participação de soldados "oficiais"...
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segunda-feira, 17 de setembro de 2007
Eleição no Rio: será que o nome de Paes vai trazer paz?
Deu no Ancelmo de hoje: "Cabral lança Paes. Ontem, em Roma, Sérgio Cabral (Governador do Rio, PMDB) tirou uma foto da rua “Via Prefeito” e apontou para Eduardo Paes, o tucano seu secretário de Esportes. Quinta, no Rio, num jantar para o capixaba Paulo Hartung, o governador disse que Paes é seu candidato do coração a prefeito do Rio. A conferir". Na verdade, o nome de Eduardo Paes circula há muito tempo como possível nome de Sérgio Cabral. Contra ele, pesavam alguns fatores. Ele é do PSDB e teria que passar para o PMDB, já que dificilmente poderá ser o escolhido no próprio partido. Mas essa mudança, por outro lado, também é difícil de ser aceita pelo Deputado Picciani e pelo ex-Governador Garotinho. Contra ele também pesa sua atuação anti-Lula/PT no festival de CPIs de 2005-2006. Pode ser que isso venha a ser contornado por Lula, mas é muito difícil dentro do PT. Talvez Sérgio Cabral tenha apenas tentado, com o lançamento do seu nome, dar uma cutucada em César Maia (de quem Eduardo Paes foi pupilo e depois tornou-se adversário, tendo até que trocar de partido) - que até já torceu o nariz para o seu nome em uma possível aliança. O certo é que o tumulto continua na identificação do candidato real do Governador Sérgio Cabral. Não há Paes que garanta a paz.
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quinta-feira, 13 de setembro de 2007
A vantagem da não-cassação de Renan
Não quero entrar no mérito da cassação ou não de Renan. Muito já se falou e eu já ri muito com o resultado e os "discursos" de Renan. Mas ontem conversava sobre o assunto com dois comunistas da melhor estirpe, e eles falavam em "vergonha nacional". Só argumentei uma coisa: imaginem que Renan tivesse sido cassado, por um voto que fosse - qual seria a manchete de hoje? Algo na linha de que o Senado teria mostrado soberania e disposição defender a ética na política. Em outras palavras, o Senado ganharia um "atestado de pureza", uma espécie de "ISO 2007 da ética na política". E isso seria justo? Meus interlocutores não responderam, mas demonstraram compreender o absurdo que certamente aconteceria. Independente de Renan merecer ou não merecer a condenação, não era isso que estava em jogo. O que havia (e há) era uma jogo pesado da Oposição (incluindo a mídia) tentando, por um lado, pressionar o Governo Lula e, por outro, agradar o eleitorado conservador. A ética não tem importância para essa Oposição desesperada. Ética passou a ser apenas um disfarce oportuno de conservadores oportunistas.
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Mamma mia! Que mundo é esse! Onde vamos parar?!
Está lá no site da BBC Brasil: "Italianos convocam boicote a macarrão por um dia". O preço do prato nacional italiano deve aumentar em até 20%. Por isso as Associações que representam consumidores italianos estão realizando nesta quinta-feira uma campanha pedindo que as pessoas não comprem ou comam massas por um dia, em protesto contra o aumento dos preços do produto devido a alta do trigo. Se as coisas continuam assim, como faremos nossas pizzas?
Squeff no SESC-SP Ipiranga
Interessante essa idéia do músico e artista plástico Enio Squeff, uma visão plástica do Hino Nacional. Abertura da exposição nesse sábado, às 20h.
quarta-feira, 12 de setembro de 2007
PSDB e DEM absolvem Renan!
Com esse resultado de 46 senadores contra a cassação de Renan Calheiros e 35 a favor, não tenho a menor dúvida de que foi decisiva a participação de parlamentares da Oposição na absolvição do (atual) Presidente do Senado. O resultado mostra também que não tinha a menor importância o que aconteceria, como dissemos aqui no Blog. O pior já tinha acontecido: o enxovalhamento do Senado. Faço eco aos berros da jornalista da sala ao lado: CHEGA DE POLITICAGEM, E VAMOS AO TRABALHO!!!
Alerta geral do desarmamento: querem piorar o que já era pouco
A manchete mais preocupante de hoje revela que o relator Pompeo de Mattos (PDT-RS) desfigura Estatuto do Desarmamento. O relator, que, segundo a reportagem de Evandro Éboli no jornal O Globo, recebeu na campanha eleitoral de 2006 R$ 120 mil de fabricantes de armas, "estendeu o porte de armas a diversas categorias; acabou com o limite anual de compra de munição pelos proprietários; reduziu à metade a taxa para se obter uma arma; e diminuiu o volume de documentação exigido para se comprar uma arma". Em outras palavras, o Estatuto do Desarmamento, que já desarma pouco, passará a desarmar muito menos. É uma notícia de matar. Mas esperamos que o tiro saia pela culatra.
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Eleições no Rio: a ameaça de Sérgio Cabral é pra valer?
Como já disse aqui, a ameaça do Governador Sérgio Cabral (Rio de Janeiro, PMDB) de deixar o cargo para candidatar-se a Prefeito do Rio foi brilhante. Permitiu que ele voltasse a ser o ator principal das negociações políticas que estavam sendo feitas. Baixou a bola do ex-Governador Garotinho (PMDB) e acalmou a ira petista. As perguntas que se faziam eram: 1) será que ele estava falando sério? 2) Ele sabia ou não sabia do acordo que estava sendo feito entre o Deputado Picciani (PMDB), o Prefeito César Maia (DEM, ex-PFL) e Garotinho? - e, se sabia, por que essa virada no discurso? Acho que Sérgio Cabral está falando sério. Mas não será necessário cumprir a ameaça. O que ele falou já foi suficiente para anular o acordo em curso e buscar-se outra solução para o imbroglio que se fez na escolha do candidato peemedebista para a Capital. Por outro lado, duvido que ele não soubesse do acordo, nos mínimos detalhes (como, aliás, acusa César Maia). Interessava estrategicamente ao PMDB local, que ganharia apoio em Nova Iguaçu (contra o petista Lindberg) e apoio para 2010 (talvez contra o próprio Lindberg) na eleição (ou reeleição) para governador. Mas os resultados do acordo saíram do seu controle. Que passou a significar enfraquecimento de Sérgio Cabral, fortalecimento de César Maia, Garotinho e Picciani e, por fim, oposição radical a Lula. Caso Sérgio Cabral não tomasse uma atitude contra o acordo, o seu governo começaria a fazer água. A sua ameaça, inesperada, teve a contundência que o momento merecia. As negociações voltaram à estaca zero, mas agora com uma nova condição: oposição a Lula está fora de cogitação.
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terça-feira, 11 de setembro de 2007
Sérgio Cabral: "Se o Serra pode deixar a Prefeitura de São Paulo para ser Governador, por que eu não posso ser Prefeito do Rio?"
Realmente era a notícia menos esperada do momento político. O Governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), pode ter dado um golpe de mestre. Nos últimos dias, ele parecia estar nas cordas, encurralado pelas notícias da aliança do seu PMDB (através do ex-Governador Garotinho e do Deputado Jorge Picciani) com o DEM (ex-PFL) de César Maia para o lançamento da candidatura a Prefeito do Rio em 2008. Havia também quem desconfiasse que Sérgio Cabral estava por trás disso tudo (eu mesmo cheguei a pensar na hipótese). O fato agora está claro: Garotinho e César Maia (talvez com apoio ou inocência - o que é difícil - de Picciani) estavam dando um golpe em Sérgio Cabral, em Lula e no povo do Rio. Sérgio Cabral reagiu brilhantemente criando esse fato político e ainda justificou: "Ora, Gadelha, o Rio é uma cidade maravilhosa, que está maltratada e que precisa de uma boa administração". O que torna a notícia verossímil é o fato do atual Vice-Governador, Luiz Fernando Pezão, ser aliado da maior confiança de Cabral. Claro que essa candidatura surpreendente não pode ser encarada como definitiva, ainda falta muito tempo para dizermos que está tudo decidido. Mas não resta dúvida que Sérgio Cabral colocou seus adversários em cheque com a notícia. Que, além do mais, deve ter acalmado o PT e feito o Presidente Lula abrir um largo sorriso.
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Extra: a manchete do dia
Os jornais chamados "populares" sempre ofereceram as manchetes mais engraçadas. Todo mundo lembra as célebres manchetes tipo "Cachorro fez mal à moça" (moça comeu cachorro quente e passou mal...) ou "Violada em pleno auditório" (o cantor-compositor Sérgio Ricardo, irritado, quebrou o violão e lançou sobre o público do auditório...). E a manchete de hoje do jornal Extra (referindo-se ao ataque à bala feito ao trem cheio de autoridades, no Rio de Janeiro) encaixa-se perfeitamente nesse espírito. É hilária! "Trem Bala" é demais.
O Dia R da política
Está se aproximando o momento do veredito final sobre Renan Calheiros. E a diversão maior de políticos e jornalistas é tentar adivinhar quantos votos serão a favor da sua cassação e quantos serão contra. Se não for cassado, ele continuará ou não como Presidente do Senado? O Governo Lula sairá perdendo ou não com sua cassação? E a imagem dos políticos ficará mais enlameada com a cassação ou (a exemplo do que ocorreu com o STF) limpará a barra diante da opinião pública com uma cassação contundente? Eu diria que praticamente não tem mais importância o que vai acontecer. O principal do que tinha que acontecer já aconteceu. O Congresso (com razão ou não) está com sua imagem enxovalhada há muito tempo e não serão os finalmentes do Renan que vão alterar isso profundamente. O Governo Lula parece que também já se preparou para qualquer que seja o desenlace. Se Renan não for cassado, haverá gritaria geral, mas depois passa. Se Renan for cassado, a base do Governo já deve estar com o novo Presidente do Senado na ponta da língua. O importante é que tudo acabe logo. Ninguém merece esse vai-vem da baixaria.
Piraí, Gil e a Banda Larga
Ontem, fui a Piraí (RJ) assistir Gil e sua Banda Larga. Só cheguei a tempo do show, à noite, em praça pública. Gilberto Gil passou o dia inteiro na cidade, conhecendo a história de Piraí Digital (o primeiro município com internet pública em banda larga) e outros programas locais. Participou de Seminário, com gente de todo o Brasil, sobre a inclusão do novo mundo digital. Fiquei emocionado. Por ver aquela pequena cidade, de cerca de 23.000 habitantes, sendo cenário de seu feito memorável, com repercussão internacional e ganhando menção no último sucesso ("Banda Larga") de Gilberto Gil. Fiquei emocionado também por ver a marca que criei para a cidade há 9 anos (com participação do Zezinho e depois do Robson Sousa) na assinatura do acontecimento. Parabéns, Pezão e Tutuca (ex-Prefeito e Prefeito atual); parabéns, Piraí.
(A foto abaixo é de Fábio Coelho)
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sábado, 8 de setembro de 2007
O papel da mídia: 11 de Setembro
O Blog do Mello tem feito excelentes postagens sobre o papel político da grande imprensa, no Brasil e no mundo. Hoje ele coloca vídeo e texto sobre a mídia americana, Bin Laden e Al Qaeda. Clique aqui.
Aliança PMDB-César Maia: me engana, que gosto
Li hoje no "Panorama Político" do Globo: "O Acordo. O governador Sérgio Cabral (PMDB) informou ao prefeito Cesar Maia (DEM) que não pode apoiar um candidato à Prefeitura do Rio de Janeiro que faça um discurso de oposição ao presidente Lula. Maia respondeu dizendo que uma candidatura comum trataria de temas municipais e que não tinha sentido aliar-se a Cabral e depois constrangê-lo com um discurso hostil ao presidente Lula. As conversas continuam". Não dá para acreditar nessa história. Mesmo que César Maia estivesse sendo sincero (coisa complicada em política), qual seria o discurso para seu eleitorado lacerdista, que se alimenta do anti-lulismo? Como evitar que seus candidatos a vereador subissem no palanque ou aparecessem no Horário Eleitoral Gratuito desancando Lula? Claro que Sérgio Cabral e todo o PMDB querem eleger o próximo Prefeito do Rio e, para isso, seria bom contar com os votos do eleitorado de César Maia. Mas como conciliar tudo isso com a lua de mel com o Governo Federal? Essa aliança - praticamente inédita no Estado do Rio de Janeiro - é o item mais aprovado pela população, tanto carioca quanto fluminense, em todas as pesquisas. Dificilmente Sérgio Cabral tomará decisão sem consultar Lula. Dificilmente César Maia poderá garantir paz com Lula.
O Senador Bispo Crivella, entre a cruz e a caldeirinha da Classe Média
Na semana passada, o Senador Marcelo Crivella (PRB) me falou que chegaria cedo na "Vigília pela Paz", evento promovido ontem à noite pela Igreja Universal (da qual Crivella é bispo) em Botafogo, Zona Sul do Rio de Janeiro. Pensei: "Esse tem coragem". O evento sem dúvida foi um sucesso de público, com avaliações entre 350.000 (O Dia) e mais de 1.000.000 (Jornal da Globo). E é claro que o Bispo Crivella, também candidato a Prefeito do Rio, tinha que estar presente. Ali, com toda certeza, estava uma imensa fatia do seu eleitorado. Mais que isso: estava também a maior parte da sua militância. Por que pensei em "coragem", então? Porque o evento avançou pela Zona Sul carioca, terreno da Classe Média que representa a maior rejeição à Igreja Universal e, conseqüentemente, da candidatura Crivella. É o primeiro evento gigantesco na região feilo pela Universal, que vem avançando timidamente nessa direção. Os eventos dessa granditude limitavam-se a regiões mais populares, como Maracanã ou Glória (mais para o Centro do que para a Zona Sul). Claro que isso faz parte de uma re-orientação na imagem da Universal, que procura se livrar de certo estigma de "aproveitadora dos miseráveis". Está certíssima em buscar essa mudança. A pergunta que faço é se esses mega-eventos religiosos servem mais para atrair ou assustar a Classe Média. Eles talvez estejam fazendo pesquisas. Mas continuo achando que é muita coragem.
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quinta-feira, 6 de setembro de 2007
Em qual palanque Sérgio Cabral e Pezão vão pisar?
No Rio de Janeiro existe um grande alvoroço com a notícia de possível aliança entre o PMDB (do Governador Sérgio Cabral e seu Vice, Luiz Fernando Pezão, aliados de Lula) e o Prefeito César Maia (DEM, ex-PFL) em torno da sucessão municipal na capital. A notícia deixou preocupados os petistas locais, que costuram o apoio do governo estadual a seu candidato (seja ele qual for) a Prefeito do Rio. A notícia tornou-se mais preocupante quando os petistas perceberam que o ex-Governador Garotinho e o Deputado Jorge Picciani (Presidente da ALERJ) estão unidos na defesa da aproximação de César Maia. No tripé do poder do PMDB regional, Picciani e Sérgio Cabral sempre estiveram juntos em oposição a Garotinho - que, por sua vez, é adversário visceral de César Maia. Dificilmente o clima de "amigos desde a infância" entre Lula e Sérgio Cabral poderá sobreviver a uma aproximação com César Maia no Rio. Garotinho, obviamente, quer fazer oposição a Lula e tentar reduzir o poder de Sérgio Cabral dentro do partido. Para isso foi capaz até mesmo de aceitar uma aliança com César Maia. Pragmaticamente, ele deve ter analisado que César Maia está em fim de carreira e que o grande adversário no Estado, daqui pra frente, será a aliança Lula-Sérgio Cabral. Picciani deve pensar algo assim e, além disso, pretende projetar o seu filho, Deputado Federal Leonardo Picciani, garantindo talvez a Vice-Prefeitura. Sérgio Cabral obviamente, pretende fortalecer a aliança com Lula, que está viabilizando o seu governo - e ainda não conseguiu resolver completamente a charada na sua cabeça. Ontem, lendo o noticiário, resolvi ligar para o Vice Pezão, que até há pouco tempo era um dos possíveis candidatos a Prefeito do Rio pelo PMDB, apesar de ter seu título na cidade de Piraí, interior do Estado. Perguntei, provocativamente: "Em qual palanque você vai pôr o pé - o mesmo do César Maia?" Pezão (que há 5 anos estava, com Garotinho, em um palanque que desabou e fez com que engessasse o pé) rebateu rápido: "Vai ser difícil subir no mesmo palanque, porque o meu palanque fica em Piraí..."
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Existe simpatia em New York?
A Prefeitura de New York resolveu investir no turismo aproveitando o próximo 11 de Setembro, quando as atenções do mundo voltam-se para a cidade e a tragédia de 6 anos atrás. Nada mais natural. E inteligente, já que busca transformar o baixo astral da data em atração simpática para os turistas. O que me intrigou foi o tema da campanha, "Just Ask The Locals" (Pergunte aos Locais"), com peças de propaganda ilustradas por artistas famosos (como De Niro ou Julianne Moore) dando dicas sobre a cidade aos visitantes. Isso é difícil de acreditar. Simpatia não é o forte de New York (é verdade que ganha de Paris...), onde até eu, quando morei lá, tratava mal os americanos de outras cidades que pediam informações! Não é com simpatia que New York tem conquistado a preferência como destino turístico. As pessoas vão a New York em busca de emoções, não de simpatia. Lá é a Big Apple, a cidade do pecado, onde tudo pode acontecer. Tenho até um cartão postal de lá, onde vemos um assaltante, com arma na mão e tudo, com a frase "Bem-vindo a New York". Tomara que essa mudança na imagem da cidade dê certo.
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terça-feira, 4 de setembro de 2007
Da série "Alberto Dines pensa que a imprensa tem o dom de buscar a verdade"
Essa tal "busca da verdade" de nossa imprensa está me deixando nervoso. A verdade encontrada agora foi a de que o ex-Deputado Federal José Dirceu saiu derrotado do 3º Congresso Nacional do PT, realizado no último fim de semana em São Paulo. Disse Tereza Cruvinel na sua coluna de hoje: "(...) o encontro explicitou ainda uma ascendência maior de Lula sobre o partido, e, para dentro, o fim da era Dirceu (...) fim da hegemonia do antigo Campo Majoritário de Dirceu". Não consigo entender exatamente essas verdades, porque o que vi, na própria mídia, foram sinais que apontam da direção contrária. 1) Antes do Congresso, José Dirceu já falava em candidatura própria para apresentar aos aliados - tese vencedora; 2) se em outros Congressos e Encontros José Dirceu era muito aplaudido pelos militantes do Campo Majoritário, neste 3º Congresso, já no primeiro dia, ele foi ovacionado por todas as correntes presentes; 3) as teses do "Construindo um Novo Brasil" (CNB, antigo Campo Majoritário) foram aprovadas por maioria absoluta; 4) A ascendência de Lula sobre o partido já é tão imensa, que é difícil imaginar que ela fique maior - ele continua sendo o grande líder petista. Agora pergunto: em qual Congresso essas "verdades" foram encontradas? Talvez seja o caso de providenciar uma lanterna, para que nossa imprensa, à maneira de Diógenes, tenha mais luz na sua busca da verdade...
Li agora no Blog de José Dirceu, que ele escreve algo próximo do que escrevi aqui. Destaco trechos:
A Folha de hoje vem com uma matéria surrealista e bem ao estilo da nossa mídia. Quer decidir o que foi deliberado no Congresso do PT e estabelecer que houve derrotados e vencedores, mesmo que a matemática e as decisões digam o contrário. Danem-se os fatos. O que vale é a notícia, que o título da matéria expressa bem - "Derrotas de direção atual abrem disputa no PT” (só para assinantes).
O jornal dá a entender que Lula, Berzoini e Zé Dirceu foram derrotados. Atribui vitórias à minoria, ou seja, à tese que ficou conhecida como Mensagem. Na prática, o Congresso aprovou a candidatura própria, vinculada à coalizão e a um programa de governo, e não como uma imposição do PT. Teses que defendi em entrevistas e aqui no blog. Logo, não sei como fui derrotado.
Essa matéria, como tantas outras, é apenas mais uma tentativa de nossa mídia de influir nos destinos do PT, mesmo às custas de deixar de lado os fatos, as votações e a realidade interna do PT.
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Todos os partidos do Brasil têm candidato próprio à Presidência da República
Não entendo toda essa quizumba em torno da candidatura própria do PT para as eleições presidenciais de 2010. Ou melhor, entendo, sim. A oposição, com apoio da grande imprensa, quer acabar de vez com o PT e, para isso, busca pêlo em casca de ovo. É natural que o maior partido, que elegeu o Presidente atual, coloque a sua alternativa de candidato para seus aliados - e os aliados fazem o mesmo. Além disso, é mais do que natural que qualquer partido tenha candidato em todas as instâncias, para todos os cargos. Um partido existe para ter voto. Ou - concluindo acacianamente - sem voto, um partido não existe. E a candidatura própria majoritária é importante para os cargos majoritários, evidente, mas também é importante para fortalecer bancadas parlamentares. É claro que, verificando que não dispõe da maioria dos votos para eleger seu candidato, um partido procure se aliar a outro para, juntos, terem uma candidatura vitoriosa. De qual dos partidos sairá o nome do candidato, é uma decisão conjunta, fruto de muito debate, muita negociação e medição de força eleitoral. Isso se chama jogo da democracia. Quem, por exemplo, é o nome eleitoralmente mais forte para 2010 na base governista? Ciro (Bloco de Esquerda), Nelson Jobim (PMDB) ou Dilma (PT)? Hoje, provavelmente seria o nome de Ciro. Mas ainda estamos muito distante da hora certa para definir o candidato comum e nem sabemos ao certo se são esses os pré-candidatos. Provavelmente muita coisa vai mudar e as negociações estão apenas começando. Vejamos o exemplo das eleições municipais do próximo ano - a indefinição de nomes ainda é imensa. Em São Paulo, por exemplo, a aliança conservadora vai de Kassab ou de Alckmin? Ou dois serão candidatos, deixando a aliança para um possível 2º turno? E no Rio, qual será o candidato dos partidos que compõem a base governista (nacional)? O PT ainda não se decidiu se terá um nome e qual será: Benedita? Edson Santos? Molon? Vladimir? Minc? O PMDB é a sigla mais forte elelitoralmente, mas está sem nome próprio capaz de disputar. O PRB tem Crivella liderando as pesquisas. O PCdoB tem o nome forte de Jandira Feghali. O PDT tem o nome forte do Deputado Federal Miro Teixeira. O PSB poderia voltar a experimentar o Deputado Federal Alexandre Cardoso. O PHS teria quem - Esdras Macedo? E o PMN - o Deputado Estadual Christino Áureo? Tudo é possível, todos podem ter candidato próprio - a eleição já é no próximo ano. Faltam menos de 13 meses e ainda não decidiram sobre candidatura única ou comum a todos ou comum a alguns! Por favor, mais juízo no noticiário. A imprensa pode escrever o que quiser, mas precisa tomar mais cuidado com as historinhas que anda inventando.
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sábado, 1 de setembro de 2007
3º Congresso do PT: a recuperação da auto-estima
O PT cometeu erros. Ninguém discute mais isso. Erros primários, de principiantes, talvez próprios de um partido ainda jovem, que teria chegado à Presidência da República muito cedo. Mas o seu grande erro político foi ter deixado aberto um flanco tão imenso para o ataque adversário. Por dois motivos principais: 1) a questão ética sempre foi uma bandeira forte do partido, que não poderia ter sido arrebatada como foi; 2) o PT é o partido que mais valoriza a organização partidária, e assim o possível erro de um indivíduo passa a ser visto como erro de todo o PT (bem diferente do que ocorre com qualquer outro partido). Somemos a isso uma oposição aguerrida, disposta a recuperar a qualquer custo o poder que detinha, com dinheiro na mão, controle da mídia e no comando da classe média dos principais centros urbanos - e teremos um ataque adversário poderoso, praticamente imbatível. Diante dessa situação, o que se via nos últimos meses era um PT acuado, cauteloso, desculpando-se por existir e apoiado unicamente na figura de Lula e da política social do seu governo. Com os ataques da crise aérea, parecia que o fim do partido estava próximo. Mas o julgamento do mensalão, ao contrário do que se esperava, deu novo ânimo ao PT. Primeiro porque deixou claro que as acusações contra seus antigos dirigentes fundamentam-se em quase nada. Segundo, porque deixou evidente o jogo da oposição - com apoio na grande imprensa - para usar o julgamento com o objetivo único de destruir o partido. O importante não era encontrar a verdade, mas, sim, acabar com o PT. Nesse 3º Congresso em São Paulo, os petistas voltaram a se encontrar com orgulho. Ovacionaram o seu líder José Dirceu e, acima de tudo, voltaram a ter um contato direto com Lula, livre da intermediação de notícias distorcidas. Ninguém chegou lá com a cabeça baixa que a oposição esperava. Nem o partido caiu na armadilha de abrir mão de candidatura própria para 2010. Ora, se outros partidos da aliança têm candidatos próprios, por que o PT não pode ter? Isso faz parte do jogo político. Não é imposição, é parte de qualquer negociação de aliados que querem, juntos, encontrar o melhor caminho da vitória. Outro aspecto importante foi a vitória das teses da CNB (Construindo um Novo Brasil, novo nome para o Campo Majoritário). Foi vitória por maioria absoluta, mostrando que o partido não se curvou à mídia. Houve alguns vacilos, desnecessários, de algumas propostas (derrotadas) ingenuamente anti-José Dirceu. Foram propostas que poderiam fazer algum sentido há dois anos atrás, quando o partido estava inteiramente nas cordas. Aprová-las agora significaria cair de joelhos. E não é isso que o 3 º Congresso quer. O ambiente está carregado de energia positiva, e a sensação que se tem é que os petistas estão saindo de alma lavada.
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